Hora de espantar o mico!

Hora de espantar o mico!

A prefeita Dárcy Vera e uma comitiva de Ribeirão Preto foram a Paris para o anúncio oficial da cidade como sede da Seleção Francesa durante a Copa do Mundo. Assim, em poucos meses, Ribeirão Preto receberá milhares de turistas estrangeiros e sua imagem será exposta ao mundo. Ninguém gosta de sair mal na foto e tampouco ser explorado em terras alheias. Tudo pode ser resumido naquele velho e conhecido ditado bíblico: “faça aos outros aquilo que gostarias que fizessem contigo”. É com a simplicidade dessa filosofia que “as forças vivas”, compostas pelo poder público e pela iniciativa privada, devem encarar o desafio de bem receber os turistas que aportarão por aqui. Como esta tarefa de recepção é bastante complexa, pois envolve logística, turismo, hospedagem, programação cultural, comunicação e atendimento, entre outras, a preparação deve ser profissional.

Faltam poucos meses para a chegada da delegação francesa. É preciso avançar além do marketing sem perder tempo com as baldas. Estamos em meados de janeiro e depois de fevereiro tem Carnaval. Portanto, a organização dessa recepção deve começar imediatamente para que a cidade não pague o mico durante a Copa e também não seja vítima do bordão que tomou conta das capitais onde serão realizados os jogos: se hoje está assim, imagina na Copa! A França foi o berço dos pensadores e os franceses são um dos povos mais escolarizados do mundo. Não são chatos, mas prezam a formalidade no tratamento.

Algumas dificuldades poderão ser superadas, outras não. O cartão de visitas de qualquer cidade é o aeroporto, neste caso, um problema insolúvel até a realização do evento. O Aeroporto Charles de Gaulle fica a 25 km do centro de Paris. Pelo crescimento da região, Ribeirão Preto já deveria ter um aeroporto fora da área urbana, mas como essa discussão se arrasta há muito tempo é preciso, pelo menos, melhorar a infraestrutura do atual, evitando que as pessoas tomem chuva no desembarque das aeronaves ou que enfrentem a falta de poltronas no saguão. Um serviço de autofalante em inglês e francês, por exemplo, já ajuda bastante. Como ocorre nos grandes eventos, certamente, os preços dos serviços serão inflacionados, mas autoridades locais não podem permitir que uma corrida de táxi do Aeroporto ao centro custe 100 euros. Aqui ou no exterior, ninguém gosta de ser explorado.

Ilustração do craque francês RibéryOs hotéis da cidade têm condições de acomodar bem os turistas. Os grandes eventos, como a Agrishow e o Carnabeirão, impulsionaram a ampliação da rede hoteleira. A diversidade da gastronomia, com bares e restaurantes das principais culinárias, deve agradar ao refinado paladar francês e a curiosidade dos estrangeiros. O problema está no padrão de atendimento prestado. Há uma falta de preparo muito grande das pessoas que lidam com o público. No dia a dia, tem hora que os atendentes, literalmente, “jogam de costa para o cliente”. Nesse ponto, os franceses são cartesianos no tratamento da clientela. Com relação a isso, há uma informação defasada circulando: a de que os franceses não gostam do inglês e só falam o próprio idioma. Desde que a crise econômica atingiu a União Europeia, os franceses baixaram a bola. O turismo se transformou numa das principais fontes de divisas e o idioma estrangeiro deixou de ser obstáculo. Os euros, acompanhados de qualquer língua, passaram a ser muito bem-vindos.  Hoje, os restaurantes franceses possuem cardápios em português e os garçons até dizem “um mullto obligado” para atender a imensa colônia brasileira que gasta muito e se tornou a quarta maior legião de turistas atrás apenas da China, Japão e Estados Unidos. Na consolidada formação cultural francesa, falar outro idioma importante não é uma questão complementar, mas básica. Via de regra, o francês médio, seja ele um verdureiro, guarda de trânsito ou funcionário de uma padaria sabe se comunicar muito bem em inglês e, se for preciso, fala o idioma para se fazer entender.

A hora dos discursos passou, pois ainda existem muitas questões para serem equacionadas: o fundamental projeto de segurança, a infraestrutura de comunicações e a sinalização das ruas e avenidas. A propósito, fica aqui uma pergunta no ar: Ribeirão Preto vai receber os ilustres visitantes com aquelas plaquinhas improvisadas de madeira que um morador tomou a iniciativa de fazer para “resolver” o problema da falta de sinalização da cidade? Ainda falta organizar as rodadas de negócios e a programação cultural para que os visitantes possam absorver um pouco da cultura. Até o presente momento, são escassas as notícias sobre o planejamento dessas atividades. A cidade esperava pelo anúncio oficial, mas agora está confirmado. Hora de entrar em campo!  Apportez sur les Français et I’Ribéry!

Compartilhar: