A ética da política

A ética da política

Um dos graves problemas da política brasileira é a falta de coerência e de um conteúdo programático definido, capaz de permitir que o eleitor identifique propostas e ideologias que se coadunem com a sua forma de ver a sociedade. Ao longo dos últimos anos, essa falta de transparência tem afastado os cidadãos da política. Não é a toa que uma pesquisa recente revelou que para quase 60% da população brasileira tanto faz viver numa ditadura ou numa democracia, desde que os seus interesses sejam atendidos. 


Nesse contexto, uma situação “surpreendente” ocorreu na política local. O presidente da Câmara de Vereadores, Franco Ferro, do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) assumiu o comando do Partido Social Brasileiro (PSB), ou seja, um político vai comandar dois partidos distintos. O fato tem duas situações que soam estranhas. Embora a legislação eleitoral permita, pela lógica da coerência, um político não poderia assumir a direção de duas legendas ainda mais que o PSB é um partido com uma tradição de esquerda e o PRTB é notoriamente de direita. Entre os filiados ilustres do (PSB) está o atual vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e o (PRTB) abriga o ex-vice-presidente do governo de Jair Bolsonaro, Hamilton Mourão.


Como os partidos e os políticos poderiam justificar uma contradição tão flagrante? Bem, para encontrar uma possível resposta o cidadão/eleitor precisa mergulhar nos bastidores da política. Nesses casos, sempre surge uma justificativa “estratégica” que serve aos interesses de quem faz o jogo da política. A legenda não poderia ficar vaga, como se fosse uma casa abandonada, pois na calada da noite poderia ser ocupada por alguém. Como no ano que vem tem eleição municipal, a sigla do PSB poderia ser “arrendada” ou “alugada” para alguma coligação que assim teria mais tempo de TV, mais verbas, uma legenda para abrigar quem quiser concorrer a vereador e por aí vai. Se de um lado esse tipo de conchavo pode dar uma vantagem para um grupo político, por outro lado, deixa evidente para o eleitor que a moral e a ética definitivamente não estão entre os primeiros requisitos de quem faz política.  

Compartilhar: