A revitalização do Centro

A revitalização do Centro

As discussões em torno da revitalização do centro de Ribeirão Preto são bem antigas. A revista Revide acompanha esse debate desde a sua fundação. A primeira capa da revista, em 14 de julho de 1986, foi sobre um casarão antigo, com valor histórico, demolido na calada da noite. No começo da década de 1990, surgiu o calçadão, inaugurado sob críticas de que o projeto poderia ter sido mais ousado, tanto do ponto de vista estético, quanto da qualidade dos materiais utilizados na obra. As maiores  reclamações recaíram sobre o piso escolhido. 


No final da década de 1990, a cidade já tinha três shopping centers, o que gerou uma diminuição no fluxo de consumidores para a área central. Um reflexo disso pôde ser visto na queda do movimento de lojas instaladas em pontos tradicionais, como a Barão do Amazonas. Com o aumento da concorrência, o comércio do centro reagiu com o respaldo das entidades que representam o setor, entre elas, o Sindicato do Comércio Varejista (Sincovarp) e a Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (ACIRP). Surgiu o estacionamento rotativo, agora informatizado e a segurança foi reforçada com câmeras de vigilância. Os comerciantes e suas entidades, periodicamente, realizam campanhas promocionais para atrair os consumidores em datas especiais do calendário. 


A vida segue, mas os antigos problemas permanecem. Entre eles se destacam a precariedade da limpeza urbana, a falta de banheiros públicos adequados e a manutenção dos espaços públicos, invariavelmente, pichados e vandalizados. A esse cenário desolador se juntam mais dois agravantes. À medida que o tempo passa, os casarões que remontam ao período de fundação da cidade vão se deteriorando ou são demolidos para ceder espaço a novos empreendimentos. Aos poucos, vão desmoronando pela própria ação do tempo. Os prédios históricos são tombados, mas poucas restaurações saem do papel. O exemplo mais emblemático é o Hotel Brasil, localizado na Avenida Jerônimo Gonçalves, construído em 1921 e tombado pelo patrimônio histórico em 1991. Depois de mais de 30 anos de abandono, o histórico hotel, avaliado em R$ 9 milhões, foi a leilão, mas não houve nenhum comprador interessado.  


A sensação de abandono gera um efeito cascata que estimula a migração de empresas para áreas mais valorizadas da cidade. Um exemplo disso foi a decadência da Avenida 9 de Julho, que era o cartão de visitas da cidade, mas que  por problemas de infraestrutura perdeu o charme e o glamour. Agora, finalmente, a histórica avenida está em vias de ser revitalizada. A consequência desses problemas apareceu numa pesquisa recente realizada pelo Curso de Arquitetura e Urbanismo da Unaerp que encontrou uma porcentagem maior de imóveis não ocupados no centro da cidade em relação a outras regiões. Na área central, 22,42% dos imóveis não estão ocupados, enquanto que nos demais setores do município esse percentual cai pela metade e fica em 11,26%. A pesquisa revela um vazio urbano que serve de alerta.   


Outro grave problema social se soma à problemática do centro. O aumento do número de moradores de rua que procuram abrigo para as noites frias embaixo das marquises dos prédios abandonados. Embora o poder público tenha órgãos  encarregados de ajudar e retirar essas pessoas da rua, uma simples caminhada pelo centro da cidade, principalmente durante à noite, deixa a nítida sensação de que essa população está aumentando em vez de diminuir. 


A população de uma cidade não pode abrir mão de ocupar o seu principal espaço. Essa retomada do centro precisa ser feita de forma coletiva, com o envolvimento do poder público, dos empresários e da população. A comunidade precisa ser propositiva com a realização de atividades na região central que possam atrair um público diversificado. Eventos culturais, como a Feira do Livro, precisam ser frequentes no calendário. A Prefeitura de Ribeirão Preto precisa revitalizar os espaços públicos e os moradores precisam zelar pela sua manutenção. Sem esse envolvimento coletivo, a cidade vai arcar com os prejuízos financeiros, com a perda do patrimônio histórico e do senso de identidade coletiva. 

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