
Afora a Copa!
Enquanto o técnico da Seleção Brasileira, Luiz Felipe Scolari teve uma semana angustiante para consertar uma Seleção em frangalhos, a política nacional teve uma semana decisiva, a mais importante do ano, cheia de definições com a realização das convenções de todos os partidos e a definição dos candidatos a deputado, a senador, e principalmente, a governador e à presidência da República. Se no time nacional, o clima foi de muita instabilidade emocional, com muitos jogadores chorando, no cenário político aconteceram algumas “deserções”, “trairagens” como se diz no jargão do futebol. Na política, tem candidaturas que não decolam e no futebol tem jogador cujo rendimento não corresponde à fama. As alianças formadas em plena Copa do Mundo influenciarão o país pelos próximos quatro anos. Não houve grandes surpresas na montagem dos times mais importantes que, efetivamente, têm chances de levantar o caneco presidencial.
Mesmo recebendo bolas nas costas, mais uma vez, o PT de Dilma Rousseff entrará em campo ao lado do PMDB, apesar de muita confusão na área. A maior crítica é que o PMDB não joga para o time, só para a torcida. Até a convenção no final do mês passado, o comportamento da cúpula do PSDB se parecia muito com o das seleções africanas, com infindáveis brigas internas. Para pôr fim às entradas maldosas entre as duas principais correntes do partido, Aécio Neves optou pela velha “chapa puro sangue”, com o candidato e vice do mesmo partido. Se de um lado isso afasta o risco de problemas no cumprimento do esquema, por outro, revela falta de opções para variar o repertório das jogadas. Aécio valorizou a prata da casa e escolheu o serrista Aloysio Nunes para ser o seu vice. O ex-governador, José Serra, que sempre complica um pouco o meio de campo do partido, ficou como titular da vaga para a disputa do Senado em São Paulo.
Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva, da futura Rede Sustentabilidade, mais parecem aqueles dois jogadores de Camarões que quase foram às vias de fato no meio da partida. Depois, na convenção do partido, correram para abraço e um tratou de encher a bola do outro, embora Marina Silva tenha tentado anular o apoio que o PSB deu ao PSDB, em São Paulo, ao indicar o deputado federal, Márcio França, como vice de Geraldo Alckmin. Marina queria uma candidatura própria do PSB.
Se as zebras correram soltas na Copa do Mundo, na eleição para governador em São Paulo, algumas alianças que estavam escaladas, há semanas, foram desfeitas aos 45 minutos do segundo tempo. Depois de sair na foto, minutos antes de entrar em campo, ao lado do candidato do PT, Alexandre Padilha, o eterno líder do PP, o deputado Paulo Maluf trocou de camisa e passou a defender as cores do PMDB de Paulo Skaf que, por sinal, fez outra contratação com peso eleitoral. Além do apoio de Maluf, Skaf também impôs uma derrota ao PSDB ao conquistar a adesão do PSD de Gilberto Kassab, que será candidato ao Senado na chapa majoritária, tentando desbancar o favoritismo do petista Eduardo Suplicy (PT). Aliás, Suplicy se adaptou bem ao time do Senado e fez que nem o Paulo Henrique Ganso quando jogava no Santos. Não quer mais sair. Esta será a quarta tentativa de reeleição do quase vitalício senador petista, que se for vitorioso nas urnas terá 32 longos anos de contribuição parlamentar, quase uma aposentadoria por tempo de serviço. No Mundial, o tempo de jogo tem sido muito bem aproveitado. A Holanda, a Alemanha e a Argentina, por exemplo, despacharam os adversários nos últimos minutos, nos acréscimos ou na prorrogação.
O futebol e a política não vivem somente das vitórias. Em plena Copa do Mundo, a democracia brasileira perdeu um jogo importante que passou despercebido porque não teve transmissão de TV. Cansado de jogar sozinho e pressionado pelas parcelas da elite que torcem pelos condenados do mensalão, o inaudito ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, com seu espírito redomão, tirou o time de campo. Com as substituições dos ministros mais consequentes do Supremo, o ministro não tinha mais com quem tocar a bola e bem antes do tempo regulamentar previsto para aposentadoria fez sinal para o banco e pediu para sair.
Ao final do jogo contra o Chile e na semana que antecedeu ao jogo contra a Colômbia, um clima macambúzio tomou conta da Seleção. Com semblante agastado, o técnico Felipão deu uma declaração estranha, dizendo que se pudesse trocaria um jogador. Logo ele, que sempre bate na tecla da família Scolari, queimou o filme de alguém sem necessidade. Há sete anos, os jogadores e a comissão técnica sabiam que a Copa do Mundo seria realizada no Brasil e que teriam a obrigação de vencer. No meio desse noticiário esportivo carregado, o Estadão de terça-a feira, 1º de julho, trouxe três notícias que estufaram as redes. As contas públicas estão afundando e o governo registrou em maio o segundo maior déficit fiscal da história. Pior que nós, só os “hermanos”. No noticiário internacional, saiu que a Argentina deixou de pagar, nos Estados Unidos, uma parcela da dívida externa, mas o Messi, em compensação, está batendo um bolão.