Anarquismo interativo

Anarquismo interativo

As lições da história são extraídas das grandes transformações. O “plus” dos proativos repousa na capacidade de interpretar corretamente as mudanças antes da grande maioria. Épocas de transformações são períodos férteis, de rupturas profundas, mas que às vezes demoram para ser percebidas por olhos distraídos. Os mais argutos desvendam rapidamente a sutil gestação do novo. Nesse processo o velho, o arcaico e o démodé são literalmente escorraçados dos ambientes pessoais e corporativos.

Entre tantos outros efeitos colaterais, essa mudança altera o DNA de onde germina um novo perfil de ser humano, mais conectado, apesar da crescente solidão interativa. Assim ocorreu na economia, cujo marco das mudanças foi a revolução industrial. Na política, a inspiração dos ideais mais altruístas veio da revolução francesa. No campo do conhecimento, a invenção da roda ficou para trás quando comparada com a mobilidade social possibilitada pelos tipos móveis da prensa de Gutenberg. 

Agora, tornou-se essencial à sobrevivência entender os impactos que a internet está produzindo na vida das pessoas, das empresas e até dos governos. O processo que ganhou ênfase na década de 90, nesta virada de século, acelerou a produção dos efeitos. Nas páginas amarelas, da edição de 13 de abril de 2011, da revista Veja, o especialista canadense em internet, Don Tapscott fez algumas observações interessantes sobre o futuro próximo que nos olha meio de soslaio.

O canadense chama a atenção para um novo tipo de inteligência, um saber conectado que contará com a efetiva colaboração das massas. O especialista batiza esse novo período de inteligência conectada em que “o gênio da tecnologia saiu da garrafa.” Tapscott explica que agora há uma legião incontável de editores do conhecimento depositado no cérebro de pessoas espalhadas pelo Planeta. Instituições como as intocáveis universidades, que outrora monopolizavam a educação superior, estão perdendo espaço e poder para outras fontes de saber. Há uma significativa inversão do fluxo do conhecimento que não mais percorre somente a via clássica, a partir do ser único, detentor do conhecimento e da informação, para os milhares de receptivos. Além de ampliar as bandas do tráfego da informação, a internet cortou os grilhões que domesticavam os receptores do processo de comunicação e deu, de mão beijada, a possibilidade de construção de personagens ativos no novo ambiente. 

A partir daqui é preciso se desvencilhar das inferências da entrevista para a conclusão pessoal. A nova sociedade que se configura na tela do computador, do apertado painel do iphone ou de outro apetrecho tecnológico repassa o conhecimento produzido por muitos ou milhares para milhões ou bilhões. Por ironia do destino e a despeito de qualquer previsão do mais renomado intelectual, a massificação se processa no Século XXI por um princípio quase anárquico, ou seja, sem o jugo autoritário e centralizador de um tutor. Esse modelo que ora surge deixaria anarquistas como Joseph Proudhon e Mikhail Bakunin rindo de orelha a orelha. Não há uma ordem, um protocolo a ser seguido ou padrão estabelecido para a transmissão e a assimilação dos novos conteúdos e isso é tudo que os anarquistas clássicos sempre sonharam. 

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