
A arte de bem envelhecer
A ciência fez a sua parte com galhardia. Amparado pelos avanços da Medicina, o homem deste século está vivendo mais e melhor. A estimativa média de vida está rompendo a barreira dos 70 e, em breve, estará batendo na casa dos 80 anos. Os japoneses, com a sua paciência milenar, são os campeões da longevidade. Comendo o saudável peixe cru, muitos cidadãos passam dos 100 anos. Por aqui, as ruas estão tomadas por atletas anônimos. Nas clínicas e nos consultórios, a preocupação com a saúde e com a estética se redobram. No entanto, os cuidados com a saúde do corpo estão amplamente difundidos e até certo ponto são fáceis de lidar. Com hábitos saudáveis, a numerosa geração que está chegando à terceira idade tem uma questão bem mais complicada para enfrentar: a saúde da mente. Esse contingente populacional, com idade próxima aos 70 anos, já ultrapassa os 20% da população brasileira e terá pela frente uma dura empreitada. Muitos idosos não estão conseguindo superar o desafio de se manterem conectados com o mundo.
Pela primeira vez na história, o Brasil tem um grande número de idosos. Como eles se comportam? Como lidam com as novas tecnologias? Qual o grau de disposição e de abertura para as novidades? Ainda possuem pique para sair de casa ou já se conformaram com o pijama? Basicamente, existem duas maneiras de envelhecer: melhorando, evoluindo e mudando ou piorando, regredindo e estagnando. Alguns serão tomados por um amargor inexplicável. Sem perceber tornam-se uma ilha de ressentimentos e lamúrias e assim seus últimos dias escorrerão lentamente pelas veias da apatia e da autocomiseração. Amargos, se alimentarão de algumas boas ou más lembranças do passado, dando uma espécie de adeus precoce ao presente e às novas possibilidades que o futuro não terá oportunidade de apresentar. A falta de esforço para permanecer sintonizado com o mundo pode tornar o idoso um ancião desligado, eternamente preso a histórias repetidas.
Felizmente, nem todos reagem dessa forma, afinal de contas, a passagem dos anos traz um pouco de sabedoria. Os mais sábios descobriram que a juventude não pode ser resumida a um curto espaço de tempo. Na verdade, a fonte do seu segredo reside na forma de encarar a vida. Os piores sintomas do envelhecimento não são as rugas ou os cabelos brancos, mas a perda do ânimo e da vontade de viver. Os que conseguem captar a mais básica lição da velhice sabem que não se pode envelhecer da mesma forma, sem uma mudança de atitude e de postura. Para criar vínculos mais sustentáveis com o mundo, é preciso sublimar um pouco a própria condição. Em vez de passar o dia reclamando, fazer uma jogada diferente, saindo da toca da autocomiseração para oferecer ajuda. Tem muita gente que vive muitos anos sem aprender essa lição. É mais feliz quem tem uma visão transcendente, pois esse consegue perceber melhor o que está em sua volta, sem ficar o tempo todo olhando para problemas rotineiros.
O idoso saudosista é aquele que a todo o instante fica tentando ressuscitar aquele passado que não voltará mais. Esse está sempre procurando culpados para tudo que não dá certo na sua vida. O idoso sábio não terceiriza fracassos, aprendeu com a passagem dos anos e renova seu ânimo com todas as oportunidades que a vida oferece. Pode ser uma grande viagem ou uma rejuvenescedora caminhada ao ar livre. Envelhecer é uma arte sobre a qual todo o ser humano deve se debruçar para estudar, aprender e mudar.