
As baladas
Infelizmente, os acidentes graves envolvendo jovens que voltam de festas na madrugada, nos feriadões e nos finais de semana, tornam-se cada vez mais frequentes em Ribeirão Preto. Temos todos um inevitável encontro marcado com a morte, mas quando o noticiário denuncia que jovens estão morrendo de forma precoce e violenta no retorno de uma balada fica a sensação de que algo inaceitável acontece. Nessas horas, até os próprios pais se surpreendem com o comportamento que os filhos adotam nas festas.
Segundo as apurações da Polícia Civil, no último feriadão de Corpus Christi, um rapaz embriagado, voltando de uma festa, passou no sinal vermelho em alta velocidade. A imprudência custou a vida de uma estudante de 18 anos que estava no carona e morreu na hora. Para a família da estudante, essa tragédia jamais será esquecida.
Turbinado pelos efeitos do álcool, o viço da juventude ignora a razão, genitora da prudência, do medo e do senso de responsabilidade consigo e com os outros. Quando o uísque ou a vodca se mistura a um corriqueiro energético, usuais nas festas de hoje, os arroubos inconsequentes se potencializam muito acima dos limites do bom senso. Não se trata de adotar o discurso reacionário que quer banir a realização de festas e decretar a abstinência completa. Em questões polêmicas que envolvem os valores morais, a sociedade opta pelo livre arbítrio, ainda que a medicina proclame justamente o contrário. As bebidas alcoólicas fazem parte dos usos e dos costumes da sociedade atual. Isso não significa que o indivíduo que bebe fora de casa tenha um passaporte oficial para a transgressão, principalmente se estiver dirigindo. Além dos limites impostos pela lei, em última análise, a questão se define nos limites que cada indivíduo ou família estabelece como parâmetro de conduta.
Numa típica balada, esses valores éticos e a própria educação familiar enfrentam um pesado teste de resistência. Algumas festas duram 12 horas com o sistema “open bar”, em que o jovem pode beber à vontade ou até quando durar o estoque dos organizadores da festa. Ingressos para essas festas não são baratos, custam R$ 150,00, R$ 200,00 e até mais. Embora as mulheres também já estejam bebendo em condições de igualdade, os homens parecem desafiados a recuperar o valor investido no convite da festa em litros de bebida. Por conta dessa faceta irracional da masculidade, são os que mais morrem em acidentes violentos. Na hora de ir embora, para que a virilidade masculina não sofra nenhum arranhão diante da namorada ou dos amigos, os homens costumam recusar a entrega da chave do carro para alguém que esteja em condições de dirigir. Uma falta de hombridade. Embora tenha dificuldades até para parar em pé, o motorista embriagado acredita piamente que “Deus protege os bêbados a caminho de casa”, mesmo que as estatísticas estejam aí para desmentir o etílico provérbio.
A campanha do Motorista da Vez foi uma tentativa para minimizar esse problema, mas, apesar da boa vontade, a proposta não passou de uma carta de intenção. Poucos abrem mão da liberdade de chegar e sair a qualquer momento da festa. Quem bebe muito, até encontrar o fundo da garrafa, não só fica tonto, perde a coordenação motora, a noção do perigo, o senso do certo e do errado. Não sabe o que está fazendo, se enche de coragem para apostar a própria vida numa suicida roleta-russa. Quem está em casa, pode cair um tombo a caminho da cama. Quem dirige bêbado coloca a sua vida em risco e, não raro, também mata pessoas que nada têm a ver com a sua festiva bebedeira em uma balada.