Barbárie explícita

Barbárie explícita

O Brasil viveu uma semana com cenas de barbárie explícita, que provocaram indignação, vergonha e muita tristeza. A lista de fatos chocantes começou pelo assassinato de um cidadão desarmado, com problemas mentais, parado numa blitz da Policia Rodoviária Federal do Sergipe por andar de moto sem capacete. As cenas que correram o mundo mostram três agentes de segurança do Estado, que têm por atribuição constitucional proteger os cidadãos brasileiros, executarem uma pessoa indefesa com atos de violência, covardia e crueldade. Numa sequência macabra, os policiais rodoviários agrediram, torturaram e mataram Genivaldo de Jesus Santos numa câmera de gás improvisada na viatura. 


Mais chocante ainda é ver autoridades públicas complacentes, permanecerem em silêncio. Nessas horas, o espírito corporativo fala mais alto mesmo diante de cenas tão estarrecedoras. A primeira nota divulgada pela PRF de Sergipe, tentando justificar uma abordagem tão brutal, foi um escárnio ao mesmo tempo em que não divulgou os nomes dos policiais envolvidos. Crimes que envolvem agentes de segurança do Estado seguem o mesmo roteiro corporativista: tenta se minimizar o crime, proteger os envolvidos, prolongar as investigações apostando na impunidade e no esquecimento. Coube ao Fantástico da Rede Globo revelar a identidade dos policiais que mataram Genivaldo.


Na mesma semana, uma operação da Polícia do Rio de Janeiro deixou um saldo de 23 mortos. Ninguém desconhece que regiões do Rio de Janeiro, de longa data, viraram território de traficantes. O Estado tem a prerrogativa do uso da força para combater o crime organizado, mas não pode fazer isso de qualquer forma à custa da vida de cidadãos inocentes. Uma das primeiras vítimas identificadas foi uma cabeleireira de 41 anos que morreu baleada dentro da própria casa. Outras pessoas que apareceram na lista de mortos não tinham nenhuma passagem pela polícia. Cidadãos pobres da periferia não podem ser mortos porque foram confundidos com traficantes ou porque estavam na linha de fogo cruzado entre os traficantes e a polícia.


Se não bastassem esses episódios, típicos de países bárbaros, a semana terminou com uma enorme tragédia em Pernambuco com mais de 100 mortos, depois que morros desmoronaram com as chuvas. No Brasil, milhões de famílias não conseguem uma moradia digna. Triste constatar que esses fatos revelam uma associação muito estreita entre a violência e a pobreza que cotidianamente mata pessoas inocentes. 

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