Bola fora

Bola fora

Em 1970, quando o Brasil foi tricampeão de futebol no México, a ditadura militar explorou politicamente a conquista. Naquela época, ficou famosa a frase que dizia que “o futebol era o ópio do povo”, uma alienação generalizada. Cinquenta anos depois, enfrentamos uma tragédia sanitária que abalou o país e matou mais de 500 mil pessoas. O futebol até que poderia uma válvula de escape diante de tanta notícia ruim, mas o esporte preferido dos brasileiros anda tão ruim que nem para analgésico está servindo. Além do baixo nível técnico, os jogos foram contaminados por um espírito de malandragem para o qual não tem vacina que cure. É jogador se atirando no chão para simular falta, reclamações exageradas o tempo inteiro e cenas de violência explícita. Na Copa da Rússia em 2018, o Brasil virou piada mundial com o cai cai do Neymar.

Fora de campo, também só tem vexame. O país aceitou sediar em cima da hora a Copa América que outros países recusaram por causa da pandemia, os jogadores da Seleção não têm boca para nada e o presidente da Confederação Brasileira Futebol (CBF), Rogério Caboclo, foi afastado do cargo, acusado de assediar uma funcionária. Nos grandes clubes, sobram maus exemplos. O jogador do São Paulo, Arboleda, foi flagrado duas vezes em festas clandestinas, nas redes sociais recebeu o apelido de “terror da Organização Mundial de Saúde”. Dois jogadores do Palmeiras resolveram empatar o jogo do desrespeito às normas sanitárias. Lucas Lima e Patrick de Paula também foram pegos em festas clandestinas. De quebra, torcedores enfurecidos estavam dispostos a fazer justiça com as próprias mãos. A situação fica ainda mais estarrecedora com as repostas dos atletas. “Apesar de clandestina, a festa seguia os protocolos sanitários”.

Para fechar o show de horrores, o jogador Jô foi massacrado nas redes sociais por usar uma chuteira, supostamente verde. O fabricante afirma que é azul, mas isso não interessa para a insanidade coletiva. Quem joga ou torce pelo Corinthians deve abolir o verde, ou seja, não pode pisar na grama, tirar uma foto ao lado de uma árvore ou comer alface? Jogadores e dirigentes brasileiros ignoram que pela grande exposição na mídia não são pessoas comuns e que, portanto, têm uma responsabilidade maior sobre seus atos. Ultimamente, algumas lideranças, celebridades e autoridades, que deveriam ser referências, estão dando péssimos exemplos.

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