
Brasileirão dos estrangeiros
O Brasileirão de 2014 “abla espanol”. Desde aqueles trágicos 7 a 1 para a Alemanha, na semifinal da Copa do Mundo, a degringolada do outrora país do futebol parece não ter fim. Diante de uma estrutura corroída e tão arraigada, o tênue movimento dos jogadores de futebol profissional, batizado de “Bom Senso Futebol Clube”, foi se esvaindo como os flocos de neve expostos ao Sol. Faltam lideranças mais autênticas e representativas. Criado em 2013, por jogadores de grandes clubes de futebol do país, o movimento cobra uma mudança de planejamento e de gestão com o slogan “por um futebol melhor para quem joga, para quem torce, para quem transmite, para quem patrocina e para quem apita.” Para todos esses, o campeonato deste ano foi um dos piores, exceto para um punhado de craques que fala espanhol.
Quem administra não poderia ser pior. O Vasco retornou apertado da segunda divisão e andou de ré ao trazer de volta à presidência do clube o famigerado Eurico Miranda. O Botafogo, o glorioso ex-time de Garrincha e de Nilton Santos, está quebrado e merecidamente rebaixado à segunda divisão. O Fluminense virou uma grande confusão com constantes agressões a jogadores. Com indiferença da diretoria, o Flamengo passou pela mesma situação durante o ano com torcedores agredindo a jogadores. O Palmeiras rondou a zona da morte até a última rodada e, para 2015, os palmeirenses não podem ficar otimistas, pois a mesma diretoria foi reeleita. O Santos está contaminado pela politicagem com suspeitas sobre o desaparecimento das receitas do clube oriundas da venda de grandes jogadores como Neymar.
Quem torce teve que se contentar em ver o brilho dos estrangeiros em seus times do coração. O melhor jogador do Corinthians é peruano Paolo Guerreiro e, quando joga, o título de melhor do Palmeiras fica com o chileno Valdívia. Os melhores da dupla gre-nal são os argentinos Barcos e D’alessandro. Outro argentino, Conca, desponta como o melhor do Fluminense. Entre os destaques do campeão Cruzeiro está o boliviano Marcelo Moreno.Diante da crônica falta de craques, os grandes clubes apelaram aos veteranos. Com quase 31 anos, Robinho já não pedala mais, mas ainda assim brilha no meio da garotada do Santos. O nível ficou tão rasteiro que os quarentões ainda têm lenha para queimar. No Grêmio, Zé Roberto, 40 anos, corre mais que os jogadores vindos da base. No São Paulo, Rogério Ceni pensou, enrolou, deu uma valorizada no passe e concluiu que sua fama de goleiro recordista não corre grandes riscos se continuar jogando no meio da boleirada atual. No dia 22 de janeiro do ano que vem, com a calvície já em estado avançado, o goleiro completa 42 anos. Mesmo que já esteja correndo sem a quarta marcha, Kaká deixará saudades no Morumbi. Se não fosse o Alex Cabeção, de 37 anos, o Coritiba teria sido rebaixado. A revelação do Brasileirão foi o Erik do Goiás. Já tinha ouvido falar dele? Da seleção do campeonato escolhida pela imprensa esportiva, a grande maioria não tem vaga na Seleção Brasileira.
Para os homens do apito, então, o ano não poderia ter sido pior. Cada torcedor brasileiro tem na memória pelo menos meia dúzia de lances em que seu time do coração foi prejudicado por erros grotescos de arbitragem. Existe uma insatisfação generalizada contra os treinadores que se perpetuam há décadas nos times de futebol. Há um fastio generalizado contra Mano Menezes, Luxemburgo, Dunga, Felipão, Joel Santana... Alguns deles já registram várias passagens pelo mesmo time. Sem a renovação dos técnicos, a mediocriadade de esquemas táticos retranqueiros proliferou pelos gramados.
No meio de tantas bolas chutadas para fora, dois registros precisam ser feitos. Depois de 10 anos de aplicação, a fórmula dos pontos corridos comprovou ser a mais justa, sendo capaz inclusive de manter o interesse pela competição até a última rodada. Também não houve a tradicional marmelada. Times que já não tinham interesse na competição jogaram com seriedade até o fim, sem prejudicar ou ajudar terceiros. Sem ambição no campeonato, o Santos ganhou do Vitória e livrou e salvou o rival Palmeiras de um vexame histórico no ano do centenário.
O Nordeste tem hoje apenas um clube na primeira divisão do futebol brasileiro. Com exceção do Goiás, os demais dezoito clubes estão concentrados no sul e no sudeste. Tal qual acontece na economia, Santa Catarina aparece como estado emergente. Possui quatro clubes na primeira divisão e atividades empresariais diversificadas, espalhadas pelo interior em cidades que puxam o desenvolvimento regional, casos de Chapecó, Joinville, Criciúma, Tubarão, o Vale do Itajaí, além da capital Florianópolis. Nem o futebol escapa da disparidade econômica do país.