Candidaturas coletivas

Candidaturas coletivas

A cada eleição, seja ela municipal ou federal, os desafios na política ficam cada vez maiores. Os recursos são escassos e as demandas da sociedade não param de crescer. Os problemas são tantos que muita gente desiste antes de concorrer. Há quem atribua à decadência moral da política brasileira ao desinteresse de cidadãos íntegros, receosos de manchar o currículo nas engrenagens da máquina pública. Já faz tempo que os bons representantes não são a regra, mas exceções.

A política foi contaminada pelos ismos: clientelismo, corporativismo, empreguismo, individualismo e outros tantos desvios ideológicos. Como sempre acontece nas campanhas, quase todos os candidatos incorporam o discurso da inovação, do pensamento solidário e se posicionam contra os benefícios injustificados e as regalias. Mas como bem sabe o eleitorado brasileiro, um enorme abismo separa o discurso demagógico e descomprometido da prática responsável.

Até agora, nas eleições, vigorava uma fórmula tradicional. Cada eleitor poderia escolher um candidato para um determinado cargo. Neste ano, uma nova tendência está consolidando no país inteiro. Grupos organizados, que defendem segmentos com pouca representatividade nos parlamentos, adotaram uma nova maneira de participar das campanhas políticas. Essa proposta de uma candidatura hackeada, compartilhada, envolvendo vários ativistas, será usada como estratégia por alguns grupos de Ribeirão Preto inclusive. Apesar de apenas uma pessoa ser a escolhida para a candidatura oficial, com nome e registro na Justiça Eleitoral, um coletivo de cinco, seis ou até mais ativistas trabalha de forma unificada. Isso obviamente aumenta as chances da candidatura ser bem- -sucedida e amplia as áreas de atuação.

Em caso de vitória, o eleito terá o compromisso moral de compartilhar o mandato, dividindo todos os recursos e atividades: agenda, salário, verba parlamentar e pessoal. Geralmente, os integrantes do grupo ocupam os cargos de confiança no gabinete. Mas nem tudo são flores. A própria divisão dos recursos materiais costuma gerar controvérsias. Como o mandato é coletivo, a tomada de qualquer decisão precisa passar por uma discussão prévia, o que demanda mais tempo. Essas dificuldades aparecem mesmo quando os envolvidos estão decididos a cumprir o pacto. Se alguém decidir romper o acordo, o mandato solidário naufraga. Eis aí um novo jeito de fazer política para ser avaliado pelo eleitor.

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