Consuma com moderação

Consuma com moderação

Não há uma época superior às anteriores, a melhor fase da vida está no presente, pois o passado já ficou para trás e o futuro sempre será incerto, uma vez que ainda não aconteceu. Por isso, as comparações entre gerações passadas e atuais são estéreis e inapropriadas. O famoso “no meu tempo” ficou fora de contexto. No entanto, algumas vantagens do mundo de hoje são inquestionáveis. Hábitos e costumes evoluíram abrindo a longa estrada para uma vida mais saudável e equilibrada. As informações sobre saúde proliferaram, mostrando a importância da atividade física, da alimentação saudável e da busca por um equilíbrio entre o corpo e a mente. 

Na sociedade digital, um novo desafio se apresenta diante do oceano de informações disponíveis diariamente. Vai demandar a mesma profilaxia que outras áreas conquistaram. O cérebro também precisa ser saudável. Mais da metade da população brasileira está conectada à internet, uma percentagem maior do que as residências que possuem rede de esgoto. Estudos revelam que, em média, o internauta brasileiro acessa o WhatsApp mais de 80 vezes por dia, muitas pessoas dormem com o celular por perto e não desgrudam do aparelho nem na hora das refeições. Além do processo viciante, há outra questão importante que precisa ser analisada com seriedade. Quais os padrões da informação que a sociedade e cada cidadão estão consumindo? Quais os cuidados que uma pessoa precisa tomar para não ser enganada por informações falsas? A consolidação dos algoritmos subverterá a ordem natural de relevância dos fatos? Qual será o impacto na vida das crianças que precocemente entraram em contato com essa tecnologia? Assim como a vida sedentária e a comida industrializada fazem mal à saúde, quem consome informações distorcidas e espalha fake news assimila uma interpretação distorcida dos fatos e pode ser manipulado por falsas teorias. Num efeito colateral muito prejudicial ao equilíbrio, ainda corre o risco de ser absorvido pela sensação de empoderamento, o senhor da verdade única da qual se torna um porta-voz, às vezes até meio agressivo. 

Como se trata de um assunto novo, o crescimento exponencial do volume de informações ainda é pouco discutido entre profissionais da área, especialistas, professores, estudantes e pessoas interessadas no tema. Para discutir este contexto, a Unaerp e a Revide promoveram uma mesa redonda sobre o “Consumo de Informação”. Os comentários e as observações durante o encontro ocorrido na Universidade deixaram evidente que há uma espécie de perplexidade coletiva com o surgimento dessa onda de histeria midiática. A sociedade atual está diante de um fenômeno inusitado: a avalanche de mensagens, vídeos, alertas, curtidas e posts. Todos os agentes engendram estratégias para chamar a atenção e cativar a audiência. A impossibilidade de ver tudo e responder rapidamente a todos gera angústia. A ansiedade surge com a incapacidade de estar sempre presente. Até quando o aparelho silencia, o sexto sentido permanece ligado, mesmo que não haja nenhuma mensagem prevista para chegar. Qualquer atividade rotineira vale uma selfie. Há uma espera implícita pelas curtidas, afinal o reconhecimento público faz parte do equilíbrio social. O verbo compartilhar nunca esteve tão na moda.  

Coitado do cérebro. Perdeu o pouco que tinha de paz e de sossego. Acorda cedo para ser bombardeado pelas notícias da manhã e não descansa mais. Passa o dia processando dezenas de mensagens, a grande maioria, desinteressante. A falta de tempo vira superficialidade. Não lê, mas acaba curtindo assim mesmo. Chega à noite extenuado, refletindo mensagens sem sentido e digerindo os excessos de mais um dia estressante. Diante da avalanche de informações, não consegue distinguir a verdade da mentira, a teoria embasada da manipulação grotesca. Uma rotina que se repete de segunda a domingo, da manhã à noite, sem intervalos. A meditação já é uma prática bem conhecida, mas agora já há quem advogue o “jejum do celular”, por alguns minutos, por algumas horas e até por alguns dias. A onda digital veio para ficar e ninguém ainda sabe responder quais as consequências que provocará no cérebro e na vida das pessoas. 

Compartilhar: