
Copas a vencer
Com a eliminação da Seleção Brasileira da Copa da Rússia, a vida pública nacional voltou ao “normal”, de cara com a decisão extemporânea do desembargador plantonista de Porto Alegre que mandou soltar o ex-presidente Lula. Depois do imbróglio jurídico, a decisão foi revertida, não sem antes chamuscar o desacreditado judiciário brasileiro. Vida que segue. A derrota da Seleção Brasileira deixou alguns ensinamentos. Ao contrário do que tentam fazer crer setores da mídia esportiva, também existe futebol em terras distantes. O Brasil perdeu por uma simples razão: a Bélgica jogou melhor. Fomos apresentados ao habilidoso meia-atacante Kevin de Bruyne e ao fantástico goleiro Thibaut Courtois. Quem acompanha a imprensa esportiva nacional assiste a um interminável rosário de estatísticas desinteressantes, de vitórias passadas, de um tempo saudoso que não existe mais. Quando o Brasil e o Uruguai venceram os primeiros mundiais, por exemplo, o futebol engatinhava e ainda tinha ares de romantismo. Os praticantes eram poucos, sem o grau de profissionalização que existe hoje. Atualmente, o Brasil faz parte de um pelotão de países competitivos, mas nem de longe é o melhor. Não tem mais uma superioridade inconteste e não possui o maior número de jogadores talentosos. Faz tempo que não consagra o melhor jogador do mundo. Faltam jogadores talentosos em várias posições, principalmente no meio campo.
Parece que ainda vai demorar algum tempo para que o universo esportivo, integrado por dirigentes, jogadores, técnicos e imprensa esportiva assimilem a nova realidade. As dolorosas eliminações (França em 2006, Holanda em 2010, Alemanha em 2014 e Bélgica em 2018) decretaram o fim da supremacia histórica. Os erros fazem parte do esporte. O incensado técnico Tite repetiu a teimosia dos antecessores Zagallo, Parreira e Felipão, que morriam abraçados com alguns atletas. Apesar de serem jogadores consagrados, Paulinho, Willian e Gabriel Jesus (principalmente este último) não estavam nos seus melhores dias e tiveram desempenhos ruins em quase todas as partidas da Copa. Deveriam ter sido substituídos logo. Apesar de possuir 23 jogadores à disposição, o técnico insistiu em manter o trio em campo, mesmo diante do baixo rendimento. Tite sabia dessa deficiência dos três, mas decidiu bancar. Só depois que estava perdendo por 2 a 0 para a Bélgica, retirou o trio no segundo tempo, mas aí já era tarde demais.
Todos os brasileiros diziam que a pior tragédia que aconteceu ao futebol brasileiro foram os 7 a 1 da Alemanha, mas, curiosamente, na derrota contra a Bélgica havia cinco jogadores em campo, remanescentes do fatídico jogo. Tiago Silva, Marcelo, Paulinho, Fernandinho e Willian estavam no vexame do Mineirão. Se Daniel Alves não tivesse machucado seriam seis e, contando com Neymar, sete. A insistência prossegue com os mesmos, sem renovação apesar do Brasil ser um eterno “celeiro de craques”. No entanto, não há nada de anormal na eliminação. Fernandinho fez um gol contra e levou um drible infantil no meio campo. Fatalidades. Independentemente do desempenho em campo, Neymar saiu com a imagem desgastada pelos excessos de simulações. Virou piada da internet. Agora, se alguém grita o nome do craque, todos em volta se jogam no chão. O técnico errou na escalação e o adversário jogou bem demais. Faz parte do jogo para que um vença e outro perca.
Há males que provocam novas posturas. A eliminação trouxe o país de volta à dura realidade atual. Também não há mais aquele risco de manipulação política do resultado. Mesmo que o Brasil fosse campeão da galáxia, nem assim isso ajudaria o governo do presidente Michel Temer, mergulhado numa reprovação e numa impopularidade sem precedentes. O povo aprendeu a separar a política do esporte. A saída precoce do Brasil na Copa oxigena o noticiário e traz benefícios. A mídia não dedicará tanto espaço ao novo topete do Neymar. Precisamos saber se há algum economista visionário, vinculado a um presidenciável que tenha plano ou proposta de solução para os 13 milhões de desempregados oficiais. O jovem jogador francês Mbappé, 19 anos, disse que não precisa ganhar dinheiro para representar a seleção de seu país e vai doar tudo o que ganhar para as entidades assistenciais da França. A cada vitória, o jogador recebe quase 100 mil reais de prêmio. Logo após a derrota da Rússia, alguns dos nossos craques pegaram seus jatinhos e retornaram à Europa. Nenhum deles faz qualquer doação ou manifestou preocupação com a situação social do Brasil. Por vezes, o técnico Tite faz um discurso rebuscado, difícil de entender, mas a situação jurídica do país é bem mais complicada. Membros da magistratura foram contaminados pela soberba e a todo instante proferem as famosas “decisões monocráticas”, baseadas numa inexplicável lógica da plausibilidade. Desrespeitam decisões superiores e colegiadas, instalando um clima de cabo de guerra com sucessivas viradas de mesa. Olho no noticiário, pois temos três copas importantíssimas para ganhar até o final do ano: a dos 13 milhões de desempregados oficiais, a da grave instabilidade jurídica e da escolha de um novo presidente que possa tirar o país dessa longa e interminável crise.