
A corrente das atitudes
A violência não sai das manchetes e projeta-se, de forma espiral nos meios de comunicação, trazendo para o epicentro da vida cotidiana o furor raivoso de uma sequência de tragédias e de atos de crueldade. Os últimos acontecimentos nacionais e mundiais derrubam a psique da opinião pública que ainda nem estava refeita do impacto da tragédia de Realengo, no Rio de Janeiro, quando estourou a notícia da invasão americana no Paquistão, pela porta dos fundos, para matar Bin Laden. Agora, um novo temor generalizado se espalhou pelo planeta: a data e a hora em que ocorrerá a vingança da Al Qaeda. Com mais essa neura, o mundo viverá, daqui para frente, constantemente alarmado.
No Brasil, a fecundidade dos escândalos diários também é uma violenta agressão à cidadania tranquila. Na Rede Globo, uma reportagem do Fantástico mostrou que nobres prefeitos e funcionários públicos larápios, de algumas prefeituras do país, ainda se locupletam às custas da raquítica merenda escolar. Na Bandeirantes, o apresentador Ricardo Boechat indignou-se, com razão, ao ler a ficha do criminoso que quase matou, meses atrás, com vários tiros, o ex-juiz de futebol, Oscar Roberto de Godoy. Preso por tráfico, o criminoso já tinha na capivara: furto, roubo e agora tentativa de homicídio. Como que um cidadão com essa folha corrida ainda gozava da plena liberdade? Talvez, juntos, os legisladores e o Judiciário possam responder.
Em Ribeirão Preto, quadrilhas fortemente armadas com carros possantes desviam da segurança dos bancos e dos estabelecimentos comerciais e se voltam contra o cidadão indefeso, que passa a ser surpreendido na própria residência, na saída ou na volta do trabalho. As famílias estão sendo rendidas na porta da própria casa!
Percebendo que o mundo está vez mais violento e carente de uma injeção de ânimo, a Coca-Cola, sempre atenta as nuances do comportamento humano, lançou um manifesto com o tema: “Razões para Acreditar. Os Bons são Maioria”, propondo uma visão positiva da vida. Não se pode perder a fé. A bíblia afirma que os justos são maioria, mas precisam romper a condição de maioria silenciosa e omissa. As reações, as lições e as atitudes precisam vir de todos os lados.
O restaurante ribeirãopretano Mais Sabor está distribuindo uma sacolinha de compras com o sugestivo slogan que estabelece uma singela conexão entre o universal e o particular, entre a ação do indivíduo e o impacto da conscientização ambiental na coletividade. Na sacola, que deve ser usada nas compras do mercado para diminuir a quantidade de plástico jogado na natureza, está escrito: “pensamento global, atitude local”.
Uma iniciativa significativa e bem caseira que, embora tímida, por enquanto, esboça uma reação, mobiliza grandes empresas e pequenas instituições, enquanto o poder governante não é suficientemente pressionado para adotar medidas que contenham essa violenta espiral.
Antes de morrer, nas palestras e nas entrevistas que concedia, o escritor José Saramago era afirmativo ao dizer que sem responsabilidade o ser humano nem mereceria existir e que as covardias do cotidiano são uma terrível espécie de cegueira mental. Sábias palavras.