Cuidado com a água

Cuidado com a água

Quem passa pela avenida Henry Nestle, na zona leste de Ribeirão Preto, e vê o bucólico lago cercado por alguns prédios não imagina que a principal riqueza da cidade esteja nesse valioso manancial subterrâneo que abastece 100% da cidade. Fruto do descaso e da inépcia pública, a área do Aquífero Guarani, mais próxima da superfície, está ameaçada de contaminação por herbicidas. Falta iniciativa para resolver um problema de grande interesse público. O abastecimento de água da cidade também está ameaçado pelos antigos lixões, pela falta de saneamento básico e pela perfuração de poços clandestinos. Além disso, se o ritmo de extração for mantido em Ribeirão Preto, a reserva de água pode se esgotar em alguns anos.

Na área de recarga do aquífero, apareceram traços de substâncias perigosas à saúde humana, como o diurom e a haxazinona, componentes de defensivos utilizados na cultura da cana de açúcar. Embora os índices encontrados estejam abaixo do considerado perigoso para o consumo humano, essa descoberta acende a luz amarela. A zona leste possui plantações de cana encostadas nas áreas de recarga do aquífero.

Pasmem os senhores e as senhoras, despreocupados consumidores de água em Ribeirão Preto, estudos em fase de conclusão também detectaram a presença do plastificante “bisfenol A” no precioso líquido que ingerimos todo santo dia. Essa substância é usada para fazer garrafas pets e recipientes plásticos. De acordo com as pesquisas de uma universidade americana, a substância está associada à feminilização de ratos. Em espécies de peixes expostas à substância, pararam de nascer machos. Embora isso ainda necessite de comprovação, no futuro, essa contaminação pode influenciar o crescimento da população feminina. Coincidência ou não, as últimas pesquisas divulgadas pelo IBGE apontam o crescimento do número de mulheres.

O Ministério Público entrou com uma Ação Civil Pública contra a Prefeitura cobrando a solução do problema causado pelos lixões desativados na zona leste e reabriu o inquérito sobre a contaminação por produtos químicos. O MP pede, em caráter de urgência, que sejam realizadas medidas preventivas e o diagnóstico sobre a possível contaminação.

Ninguém sabe ao certo quantos são os poços clandestinos abertos na cidade, portanto, sem qualquer mecanismo de controle e de fiscalização. Segundo o Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE), em Ribeirão Preto, são mais de 500 e, por azar nosso, a maioria está na zona leste, concentrados no Recreio Internacional e no Portal dos Ipês. O poço irregular é perfeito para levar qualquer uma dessas contaminações ao coração do aquífero. Até o fim do ano, o DAEE deve começar um estudo para verificar o nível da água e o potencial de contaminação, bem como detectar quais são as principais vulnerabilidades. Medidas profiláticas seriam evitar a aplicação de herbicidas e de pesticidas em áreas de recarga do aquífero e tratar o assunto com seriedade para impedir que uma tragédia aconteça. O poder público, no entanto, sempre tem dificuldade para separar o principal do acessório e agir com a rapidez que a gravidade da demanda exige.

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