De Nogueira para Nogueira

De Nogueira para Nogueira

No Brasil, o instituto da reeleição para presidente, governador e prefeito mais atrapalhou do que ajudou. A mudança ocorreu em 1997 para beneficiar o presidente que estava no cargo, no caso Fernando Henrique Cardoso. Na época, conversas gravadas revelaram que votos de deputados foram comprados. Em qualquer cidade ou estado do país, o candidato que concorre à reeleição exercendo um cargo no Executivo leva uma vantagem considerável sobre os demais concorrentes. No entanto, até que haja uma mudança, essa é a regra do jogo. 

Nos últimos 16 anos, dois políticos de Ribeirão Preto fizeram valer o advento da reeleição. Darcy Vera se elegeu em 2008 e 2012, embora tenha sido destituída do cargo no final de 2016. Antonio Duarte Nogueira Junior (PSDB), filho de um ex-prefeito que governou a cidade em duas oportunidades, foi eleito em 2016 e reeleito em 2020. Em regra, a alternância de poder no Brasil resulta em quebra de continuidade. Programas mudam de nome, obras são interrompidas e projetos são reformulados para apagar a marca do governo anterior e inserir a identificação da nova gestão. Outro lugar comum são as famosas “heranças malditas” em que o sucessor passa os quatro anos reclamando das dívidas e dos ônus deixados pelo antecessor.

No caso de Ribeirão Preto, a cidade vai vivenciar essas duas experiências. Em 2016, Duarte Nogueira recebeu de Dárcy Vera uma administração em frangalhos com uma dívida de quase R$ 1 bilhão, fornecedores que se recusam a vender à Prefeitura, funcionários em greve e contas no vermelho. Na última campanha eleitoral, o prefeito relembrou exaustivamente que herdou uma prefeitura quebrada e que essa foi a principal dificuldade enfrentada por seu governo. “Nos dois primeiros anos, praticamente só pagamos contas até equilibrar as finanças”, declarou Nogueira.

A partir de 1º de janeiro, Nogueira não poderá mais reclamar da herança que recebeu do antecessor. Na administração púbica brasileira, à medida que o tempo vai passando, as dificuldades só aumentam. Quem olha o orçamento previsto para 2021, estimado em R$ 3,5 bilhões, pode achar que a Prefeitura terá muito dinheiro para gastar, mas cerca de 90% dessa verba já está comprometida com a folha de pagamento, com as destinações carimbadas como saúde e educação e as despesas de custeio. Sobra muito pouco para novos investimentos. As obras que estão em andamento em Ribeirão Preto são recursos vindos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), empenhadas em administrações passadas e retomadas pelo atual governo. Na outra ponta, o crescimento vegetativo da população traz como consequências novas e intermináveis demandas na área da educação, saúde, infraestrutura e saneamento básico. Ribeirão Preto possui cerca de 100 favelas e 50 mil moradores vivendo em condições degradantes. Só esses dois números já dão uma dimensão do desafio. No meio de tudo isso, ainda tem uma pandemia que não acabou e setores da economia que precisam de apoio para se recuperar.

Nesses quatro anos que estão terminando, o atual prefeito errou e acertou ao montar a sua equipe, já conhece os números e a situação atual do município e participou de uma campanha eleitoral acirrada, onde pode ouvir o que a população e as entidades representativas pensam a respeito do seu governo. Só os governantes mais sábios conseguem separar a crítica meramente destrutiva da proposição executável que pode resultar em algo melhor. Se quatro anos podem ser pouco, oito anos com certeza é um tempo mais do que suficiente para que um modelo de gestão seja consolidado. Levando em conta os votos válidos, a maioria do eleitorado de Ribeirão Preto deu mais quatro anos para o atual prefeito. Por essa lógica político-administrativa, espera que o segundo mandato seja melhor do que o primeiro. Que o novo ano também seja assim, trazendo um 2021 bem melhor do que 2020!

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