
Desafios do futuro prefeito
Questionado sobre a desistência antecipada de nomes considerados certos para eleição municipal, casos de Ricardo Silva e de João Gandini, um político experiente da cidade respondeu.
— Do jeito que a situação financeira da Prefeitura de Ribeirão Preto vai, daqui a pouco ninguém vai querer pegar.
O político se referia ao crescente endividamento municipal, à vinculação das receitas ao pagamento de despesas e à falta de recursos para investimentos e novos programas. Segundo um estudo feito por entidades locais, esse comprometimento hoje chega a 95%. Na contramão, as demandas sociais crescem a cada ano. Mesmo assim, nesta eleição, Ribeirão Preto tem 10 candidatos. Isso representa 1/3 do número total de partidos do país que ultrapassa a 30. Quando se analisa o espectro político que hoje compõe a política nacional e a local chega-se à conclusão que há muitos partidos de direita, de esquerda e de centro com propostas parecidas e poucos diferenciais. A profusão de siglas partidárias confunde o eleitor e restringe o entendimento da política aos especialistas e à militância. Poucas pessoas sabem que o Cidadania, por exemplo, teve origem numa parte do Partido Comunista Brasileiro (PCB) que virou o Partido Popular Socialista (PPS) até resultar na formação do Cidadania. O DEM (Democratas) teve origem no Partido da Frente Liberal (PFL) e o PP tem raízes históricas com o PDS e PPB e o PPR. No entanto, a questão programática partidária foi se esfacelando nos últimos tempos e perdeu importância. As decisões políticas do eleitorado convergiram para escolhas baseadas em nomes, algo que sempre oferece um risco elevado. A história do país registra centenas de casos de candidatos que enganaram eleitores com o discurso fácil. Em poucos partidos, casos do PSDB, PT e PSL é possível identificar alguma identidade ideológica.
Esses ingredientes estão presentes na escolha que os 441 mil eleitores de Ribeirão Preto terão que fazer daqui a um mês. Embora as maiores preocupações sejam o calor infernal, a pandemia e a crise econômica, a campanha de 2020 ficará praticamente restrita à televisão e à internet. Uma parcela significativa do eleitorado não será alcançada e não terá contato com as propostas. O tête-à-tête e as aglomerações não são recomendadas. A virtualização da disputa tende a deixar a campanha na superfície, quando a complexidade dos temas aponta na direção contrária.
Alguns desafios já estão postos para o futuro prefeito que não poderá alegar desconhecimento de causa. Nos últimos dois anos, o Instituto de Previdência dos Municipiários (IPM) consumiu R$ 470 milhões em recursos públicos. Há necessidade de uma reforma administrativa para minimizar os impactos futuros da folha de pagamento que hoje consome cerca de R$ 63 milhões por mês. A Prefeitura ainda precisa investir em tecnologia para melhorar a prestação de serviço. Quem sentar na principal cadeira do Palácio Rio Branco terá que fazer tudo isso sem aumentar impostos e com a receita em queda devido aos reflexos da pandemia.
Por tudo isso, a capacidade de gestão, com certeza, é um dos principais critérios que o eleitor precisa levar em conta na hora de definir o voto. Os discursos eloquentes e às vezes até agressivos com soluções fáceis para tudo são enganosos e podem levar a administração ao caos em um momento em que as fragilidades econômicas são muitas. Nos próximos 30 dias, esta precisa ser a preocupação central de quem não quer pôr em risco o futuro da cidade onde mora.