Dilma na ribalta

Dilma na ribalta

Dilma Rousseff visitou Ribeirão Preto, pela primeira vez na condição de presidenta da República, no lançamento do Plano Agrícola e Pecuário 2011/2012. Não era uma noite de gala, mas a primeira mandatária do país estava elegantemente vestida com um conjunto vermelhos. Também foi a primeira vez que um presidente pisou no glamouroso palco do Theatro Pedro II depois da restauração.

Embora alguns gramáticos relutem em aceitar, a presidenta entende que as mulheres conquistaram a duras penas a igualdade social e que hoje merecem a distinção de gênero na denominação do mais alto cargo do país. Entretanto, os principais desafios que se colocam para a nova mandatária do país não são questões exclusivamente relacionadas ao gênero, ao preconceito ou à discriminação social do sexo feminino. As questões que rondam o espectro de atuação de Dilma são demandas mais abrangentes, estruturais, que implicam em rupturas e na superação de velhas práticas na relação entre o capital e o trabalho, principalmente no campo. 

Na protocolar cerimônia do Theatro Pedro II, diante de expressivas parcelas do agronegócio brasileiro, por motivos óbvios, preponderou o discurso moderado e conciliador. Entretanto, não dá para esquecer que o mais aguerrido embate ideológico dos últimos tempos, a votação do novo Código Florestal, teve e tem a agricultura como pano de fundo.

Outrora, a produtividade do agronegócio brasileiro foi feita às custas de uma exploração cruel do homem do campo, incluídos aí os pequenos produtores e os trabalhadores rurais, que ao final de cada colheita arcavam com prejuízos imensos. Nos últimos anos, essa situação melhorou bastante pela introdução de novas tecnologias que eliminaram o trabalho mais penoso e estabeleceram novos padrões de produtividade.

Hoje, o país enfrenta desafios maiores, de competividade internacional, testando sua capacidade de conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação do meio ambiente. Nem de longe, esses avanços, expressos na representavidade de quase 40% que o setor possui na composição do PIB brasileiro, significam que o campo virou um oásis. Durante décadas, os plantadores de laranja foram triturados pela indústria do suco. Por estas bandas, o fogaréu ainda é método de colheita. Os conflitos no interior do país ainda são resolvidos à bala, vide os assassinatos recentes de três lideranças rurais na região norte ao denunciarem o desmatamento ilegal da Floresta Amazônica. No evento no Pedro II, a presidenta Dilma reafirmou que não aceita a anistia aos desmatadores. 

Ao completar os primeiros seis meses, o governo de Dilma Rousseff ainda tem uma cara disforme, uma mescla da imagem do antecessor com as feições da nova mandatária, mas ela tem a histórica oportunidade de transformar o país em uma potência ambiental, internacionalmente reconhecida, algo que os dois presidentes anteriores, FHC e Lula, não conseguiram. Essa sim seria uma significativa diferença de gênero e de grau. 

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