Dilma no JN

Dilma no JN

Na edição do Jornal Nacional de segunda-feira, 1º de novembro, um dia após ter sido eleita, Dilma Rousseff concedeu uma deferência especial à Rede Globo e compareceu na sede da emissora em Brasília para uma entrevista ao vivo. A Globo deslocou para a Capital Federal o seu jornalista número 1, o apresentador Willian Bonner. A tradição política brasileira mostra que a Globo sempre teve privilégios com o poder e, em momentos decisivos da história do país, soube retribuir essas gentilezas. Nenhum outro veículo de comunicação ganhou de presente esse “furo” de reportagem. Quem não viu a primeira entrevista da presidenta eleita, pode assistir no portal G1.

A praxe manda que os entrevistados em programas de TV estejam devidamente acomodados quando o telejornal entra no ar. Com Dilma isso não ocorreu. Sua entrada no estúdio foi diferente, ganhou um ar triunfal, típico das celebridades que participam do programa do Faustão. Nos longos 27 minutos de duração da entrevista, o apresentador Willian Bonner fez as honras da casa e abdicou da sua condição de jornalista cuja função número um é a de questionar os governantes em todas as circunstâncias que se apresentam. Bonner estava mais preocupado em ser um bom anfitrião do que um entrevistador arguto. O jornalista se esmerou para criar um clima de intimidade. Já no primeiro encontro com a presidenta eleita, a emissora queria selar um pacto de boa convivência entre o primeiro e o quarto poder.

O âncora do JN praticamente não fez nenhuma pergunta objetiva sobre os temas que tanto afligem os brasileiros e que por sinal foram pouco discutidos durante a campanha eleitoral. Ficaram de fora da pauta, os temas áridos como as reformas tributária, política e previdenciária. Nada se comentou sobre os graves problemas de infraestrutura, medidas para diminuir a corrupção ou os descalabros da saúde e da segurança pública.

A conversa ficou naquele tom ameno, viajando pelas reminiscências da vida de Dilma. A única questão de fundo abordada pelo entrevistador foi a liberdade de imprensa, algo que interessa de perto à emissora. Na mensagem final, a futura presidenta se comprometeu a respeitar os marcos atuais que balizam a atuação dos veículos de comunicação, declarou que “prefere uma imprensa livre ao silêncio das ditaduras.”

Na democracia prevalece a vontade da maioria, independentemente da opção política de cada eleitor. As majoritárias classes de menor poder aquisitivo mandaram o seu recado nas urnas. A maioria decidiu que o atual modelo econômico, responsável pela incorporação de significativas parcelas da população ao mercado de consumo, deve continuar. O recado veio com a unanimidade do Nordeste, onde Dilma venceu em todos os estados, mais o Amazonas, o Pará, Minas Gerais e o Rio de Janeiro. No Sul e no Sudeste, Serra venceu, mas o eleitorado ficou bem dividido nesses estados. Assim, com ou sem a chancela da Rede Globo, os brasileiros e telespectadores esperam que a candidata cumpra com as suas promessas para transformar o Brasil em um país melhor.

Compartilhar: