
“É preciso falar”
Ribeirão Preto teve um final de semana com uma vivaz programação cultural com dois eventos que causam inveja em qualquer grande cidade do país: o encerramento da 11ª Feira Nacional do Livro e a 10ª edição do João Rock. Não se trata de dar guarida ao discurso ufanista para encobrir mazelas, alardeando que os eventos organizados na cidade são os maiores e os melhores do país, embora a Feira do Livro seja a segunda maior no gênero e o João Rock tenha sido aclamado no palco pelo vocalista do Jota Quest, Rogério Flausino, “como o maior evento de rock do interior do Brasil”.
Eventos não precisam ser os maiores e nem os melhores para que tenham qualidade e contenham uma significação importante para o público. Com propostas diferentes, a Feira e o João Rock possibilitam que haja uma imperceptível evolução cultural, tão abstrata que, às vezes, nem mesmo as mentes mais brilhantes conseguem captar.
A despeito da garotada que circula pela Praça para atazanar a paciência alheia, a Feira com os labirintos repletos de livros, artistas e pessoas interessantes abre caminho para a fermentação das ideias. Sem falar do gesto simbólico para as crianças da rede pública de ensino que, munidas de pequenos cheques, tomaram contato com este universo fantástico. Pelas próprias mãos, tiveram a oportunidade de adquirir livros em um país que não tem tradição de leitura. As letras, os conhecimentos, as informações, as experiências fazem parte de um mundo que vai muito além da mera aferição fria e simplista dos números.
No palco da música, o João Rock também abre espaço semelhante. Bandas de estilos diferentes se reúnem em um festival sem fronteiras, resgatando a nostálgica e contagiante vibração da grande tribo do rock brasileiro. O tempo passa, as músicas mudam, mas o rock não esmaece. Mostra seu vigor com a presença de bandas contemporâneas ao próprio João Rock com a sonoridade agressiva do CPM 22, acomoda-se nas baladas suaves do Skank e se apresenta com o som maneiro do Natiruts. Ao contrário das tendências de comportamento, os membros dessas tribos são mutantes, mas não são segregantes. Cantam tranquilos a música da banda alheia e transformam essa imaginária e temporária cidade do pop rock numa alegre festa para 25 mil pessoas. “É preciso” ouvir a música que o Jota Quest cantou no João Rock:
“É preciso falar dos amigos,
É preciso falar de nós dois
É preciso falar de estar vivo
E do que nos espera depois ...
É preciso brindar o destino
É preciso gritar começou
Se jogar nessa dança na vida
Sem medo do escuro
Impossível não falar de amor
É preciso falar ...