Entre o simples e o arriscado

Entre o simples e o arriscado

Em meio à rebelião no Exército russo, na interminável e absurda guerra na Ucrânia, a notícia que mais chamou atenção em junho foi a implosão do submersível utilizado em uma expedição de turismo para explorar os destroços do Titanic, na costa sudeste do Canadá, no Oceano Atlântico, a 4 mil metros de profundidade. Cinco pessoas morreram, entre elas, um jovem de 19 anos. A notícia comoveu o mundo e monopolizou as atenções da opinião pública, mesmo que outras tragédias corriqueiras, como incêndios, inundações e desastres ambientais, provoquem um número bem maior de mortos. 

 


Quando se toma conhecimento do contexto dessa trágica notícia, surge um questionamento: qual a motivação de um grupo de pessoas para embarcar numa aventura perigosa, arriscando a própria vida, ainda mais sabendo que o nome Titanic, por si só, já carrega a lembrança de tragédia e do mau agouro? Por que algumas pessoas estão dispostas a pagar uma fortuna para ver os destroços de um navio no fundo do mar, naufragado há mais de 100 anos, ainda mais tendo em vista que a carcaça do Titanic já foi exibida em diversas reportagens e documentários? Não é preciso ser nenhum especialista em engenharia naval para ver que a engenhoca submarina de uma empresa interessada em ganhar dinheiro oferecia um risco elevado, mesmo que tenha sido construída com um material resistente. 

 

Não se trata aqui de reproduzir uma prática não recomendável de criticar erros depois do fato consumado. No entanto, um velho ditado popular adverte que “a curiosidade matou o gato” para avisar que os imprevidentes assumem o risco de se dar mal. O desastre do submersível provoca uma reflexão sobre a diversidade que compõe a inquieta alma humana que, mesmo diante das condições mais adversas, encontra coragem para correr riscos. Nessa extensa lista entram os alpinistas que escalam montanhas geladas, os que desafiam as alturas em pequenas estruturas motorizadas e os que estão dispostos a viajar pelo universo abordo de um foguete. Essas e muitas outras aventuras contrastam com a rotina que faz parte da vida da grande maioria das pessoas que alternam as horas do dia entre o trabalho, os deslocamentos, as tarefas domésticas e o tempo de lazer. Um mundo previsível na maior parte dos dias. O século temperado pelas telas da tecnologia parece ter acelerado todas essas etapas, fazendo com que essa rotina diária se repita de forma cada vez mais intensa e rápida. 

 


Seja rico ou pobre, os momentos de dor, as angústias, os medos, as incertezas, a sensação de vazio e a acomodação fazem parte da aventura humana. Para muitos, a própria sobrevivência já é uma façanha. Alguns sentem uma necessidade implícita de descobrir o novo, de se aventurar para encontrar e fazer algo diferente que dê um novo sentido para a vida. Por essa ótica, essa seria uma busca interminável. Talvez esse seja o combustível que move os aventureiros que, em alguns casos, ignoram avisos e deixam para trás os limites da prudência. É uma corrida sem fim em busca da emoção ou de alguma satisfação pessoal. 
Difícil afirmar se o risco pode mesmo ser calculado, se a empreitada vale a pena para encontrar o prazer da adrenalina. No fundo, tem gente que passa a vida toda tentando encontrar a si mesmo, mas pensando de uma forma mais sóbria, dá para sonhar sem tirar os pés do chão. Há uma riqueza difícil de perceber que não está escondida nas profundezas do mar ou em galáxias distantes. Feliz é aquele que encontra na simplicidade próxima aquilo que pode trazer alguma satisfação e que consegue transformar o seu a dia a dia numa grande aventura. Esses encontram o prazer e a alegria na realidade corriqueira, de andar a pé, sem celular, só apreciando a beleza da paisagem. 

Compartilhar: