Escassez de projetos

Escassez de projetos

Assim como as demais cidades do país, Ribeirão Preto tem uma extensa lista de problemas que a política precisa resolver. Mais uma eleição se aproxima e o desinteresse de parcelas crescentes do eleitorado contribui para que a situação atual permaneça inalterada, sem muitas perspectivas de mudanças. Fora a disputa sectária que beira às raias do ódio, nem a disputa presidencial empolga o eleitor diante da falta de credibilidade e de um currículo minimamente aceitável da maior parte dos candidatos. Não existem grandes estadistas honestos disponíveis no mercado eleitoral. Muito provavelmente, o segundo turno encaminhará o debate para o avesso de uma escolha madura, para a definição de quem não pode ser eleito. 

Na parte que toca ao eleitorado de Ribeirão Preto, as projeções apontam para poucas mudanças. Salvo uma grande surpresa, quando as urnas forem abertas a tendência é que as estruturas atuais sejam mantidas com uma ou outra renovação. Essa análise se baseia na atual legislação eleitoral que estabeleceu o financiamento público das campanhas. Por essa regra, os atuais detentores de mandato receberão a maior parte das verbas. Dependendo do partido são recursos milionários, que segundo a lei, ficam a cargo do presidente do partido destinar. A legislação eleitoral aprovada permitiu que uma única pessoa, de acordo com os seus critérios de conveniência, destine os recursos para “os amigos do rei”. Assim, quem for um candidato iniciante cheio de novas propostas, mas que não fizer parte do esquema partidário será relegado na distribuição de verbas. 

Uma análise retrospectiva dos eleitos para a Assembleia Legislativa e para a Câmara Federal mostra que apesar de todo o discurso de mudança que se ouve nas ruas em época de eleição, historicamente, o voto do eleitor de Ribeirão Preto tem sido conservador com relação a candidatos e a partidos. No decorrer dos anos, os eleitos percorrem uma espécie de escadinha com a primeira eleição para vereador, algumas reeleições estaduais até chegar ao Congresso Nacional. Até aqui, os dois maiores cabos eleitorais são o sobrenome e o grau de parentesco com algum político tradicional. Essa lógica vale não só para a Assembleia Legislativa e para a Câmara dos Deputados, mas também se estende à Câmara de Vereadores e ao Executivo. 

Os problemas que Ribeirão Preto enfrenta hoje, entre muitos aspectos, têm a ver com a carência ou a escassez de projetos que viabilizem soluções coletivas para as cidades que compõe a região. No momento, não há, por exemplo, nenhuma discussão em torno de uma destinação conjunta do lixo regional ou da coleta seletiva. O mesmo ocorre na segurança ou no transporte. Também não existe nenhum projeto de integração regional para melhorar a mobilidade entre as cidades. Um bom exemplo da escassez de soluções conjuntas é a própria região metropolitana que deveria encaminhar soluções coletivas para os problemas e fomentar o desenvolvimento regional. Um ano depois do  lançamento, que já ocorreu com enorme atraso, nada aconteceu, a não ser o marketing político que foi feito pelo atual governo estadual. A lentidão e a burocracia impediram qualquer avanço concreto para a população que até agora não foi beneficiada em nada.

A representação política, seja com projetos e ações, não conseguiu fazer com que a região metropolitana trouxesse algum benefício concreto para a população. Lembrando que o atual governo estadual está há 20 anos no poder. O tempo passou. Daqui a um mês, os representantes do executivo e do legislativo serão renovados e o andamento da região metropolitana ainda não desenrolou. Enquanto isso, vigora a politica do lobby que resolve alguns problemas pontuais. De acordo com a influência e a afinidade política, parlamentares têm direito a fazer emendas pontuais que até são bem-vindas, pois destinam recursos para atender alguma necessidade. Dessa forma, são direcionadas verbas para hospitais, creches ou alguma obra emergencial, mas essas emendas estão muito longe de representar uma política consistente de desenvolvimento regional. Sem isso, os problemas se acumulam e as prefeituras se transformam em unidades do corpo de bombeiros sempre preocupadas em apagar algum incêndio. Vai eleição, vem eleição, o tempo passa e fica a constatação de que os problemas são os mesmos há décadas e não se resolvem. Quem por ventura se der ao trabalho de examinar o material de campanha de um candidato dos anos 90 vai constatar que ele se enquadra perfeitamente no momento atual. Essa é uma triste realidade que só pode mudar através do voto. 

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