
A escolha do domingo
Se há algo que o país pode se orgulhar é de possuir um sistema eleitoral informatizado, à prova de fraudes que garante credibilidade, transparência e rapidez. Desde que o voto eletrônico foi implantado em 1998, nunca houve uma denúncia séria com algum fundamento a ser considerado pelas instâncias judiciais. E olha que gente para reclamar é o que não falta. Em tese, todo o político, seja ele candidato a vereador, prefeito, deputado, governador e presidente quando perde uma eleição gostaria de reverter a decisão. Também não faltam no mundo hackers que burlam a sofisticada segurança de empresas e de instituições. Por ora, até o presente momento, as urnas brasileiras resistem às invasões e tentativas de desestabilização. No primeiro turno das eleições, um atraso de poucas horas na divulgação do resultado, por um problema técnico, já foi o suficiente para que as milícias digitais interessadas em desacreditar as instituições entrassem em ação. Quem surfa nessa onda geralmente tem escusas pretensões golpistas ao melhor estilo de Donald Trump. Depois que chegam ao poder, esses grupos organizados contestam a legitimidade dessas instituições que garantiram a sua ascensão.
Se distanciamento social, álcool em gel e o uso de máscara protegem contra a Covid 19, votar faz bem para a democracia. Por isso, acertou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em manter a eleição neste ano, mesmo com o risco da pandemia. Como quase sempre acontece, a votação do primeiro turno foi muito bem organizada, com poucas filas e seções eleitorais mais divididas para evitar a aglomeração. O protocolo criou um distanciamento entre o eleitor e o mesário para garantir a segurança de todos. Quando o eleitor chega preparado na cabine de votação, sabendo quem é o seu candidato, 0 voto se materializa em poucos segundos.
A eleição em Ribeirão Preto ficou para o segundo turno, o que trouxe um aspecto positivo: faz com que o eleitorado discuta por mais tempo o futuro da sua cidade. No segundo turno, os candidatos possuem tempos iguais na propaganda eleitoral gratuita. Com dois postulantes, os debates na TV ficaram mais inteligíveis ao contrário do que ocorre quando há 7 ou 8 participantes. O segundo turno de 2020 praticamente repete o segundo turno de 2016. De um lado, Antonio Duarte Nogueira (PSDB) busca a reeleição e a manutenção do protagonismo do partido na cidade. Desde que foi criado em 1988, o PSDB elegeu dois prefeitos: Roberto Jábali em 1996 e Welson Gasparini em 2004, além do próprio Duarte Nogueira em 2016. Neste ano, a oposição chega representada pela ex-reitora da USP, Suely Vilela (PSB), que conquistou a vaga com apoio do deputado federal Ricardo Silva e do deputado estadual Rafael Silva, ambos também do PSB. Na eleição de 2016, Ricardo Silva disputou o segundo turno contra Nogueira, alcançando 111.697, 43,06% dos votos válidos. Nogueira somou 147.705, 56,94% dos votos válidos.
Os números e os resultados das duas últimas eleições revelam que essas são as duas principais forças políticas da cidade no momento. A última pesquisa do Ibope, divulgada na terça- -feira (24/11/2020) apontava para um empate técnico entre Duarte Nogueira e Suely Vilela. Por paradoxal que pareça, quem não votou no primeiro turno, pode decidir a eleição no segundo. Formalmente, Ribeirão Preto possui 441.845 eleitores, mas praticamente 1/3 desse eleitorado não vota e ignora o processo. A soma das abstenções, votos, brancos e nulos totalizou no primeiro turno 143.337 votos, 32,44% do colégio eleitoral. Nessa conta ainda precisam entrar os 84.296 votos dos eleitores que apoiaram candidatos que não chegaram ao segundo turno. No total, são quase 274 mil votos perdidos, incertos, indefinidos ou de quem está insatisfeito, que representam 64% do total do eleitorado, mais da metade do total de votantes. A paridade de forças e o resultado indefinido são motivações a mais para que os eleitores compareçam e façam valer a sua vontade. Os desafios do futuro prefeito (a) não são poucos e todos os moradores da cidade sentirão nos próximos quatro as consequências dos erros e dos acertos da nova administração. A solução para o buraco na rua, a redução da fila no posto de saúde e a oferta de vaga em uma boa escola depende da escolha de domingo.