
Escolha o presidente
Passada a Copa do Mundo, a atenção da opinião pública volta para as eleições, em especial para a difícil e complicada missão que o eleitor tem pela frente: a escolha do próximo presidente que herdará um país com dificuldades de crescimento e uma imensa dívida social a ser resgatada. Para procurar o melhor candidato entre os que se apresentam, desde já o eleitor precisa ficar atento, pois o tempo dessa campanha será mais curto que as anteriores. Restam pouco mais de dois meses até a data da eleição. As expectativas sobre o nível da campanha são as piores possíveis em função da pulverização de candidaturas, da onda de radicalismo crescente, da intolerância no debate e da previsão de avalanche de fake News. Tradicionalmente, as campanhas eleitorais brasileiras nunca foram muito elucidativas com o voto fortemente influenciado pelas poderosas ferramentas de marketing.
A campanha deste ano tem novidades e situações que se repetem há décadas. O eleitor pode se preparar para encontrar na cédula eleitoral mais do mesmo. Todos os candidatos chamados de “outsiders”, pessoas com histórico fora da política, saíram da raia antes de a disputa começar. O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, e o apresentador Luciano Huck chegaram a ensaiar o ingresso na política, mas declinaram das candidaturas à presidência. O mesmo caminho seguiu Flávio Rocha, o fundador das lojas Riachuelo, que recentemente desistiu de concorrer pelo PRB. Independentemente das razões particulares que levaram às renúncias, fica a impressão de que quem está de fora do jogo político quando conhece mais afundo os esquemas partidários se assusta e desiste.
Outro fator novo na eleição deste ano em relação às anteriores passa pelo arrefecimento da polarização entre o PT e o PSDB, dualidade que se repetiu nas seis eleições dos últimos 20 anos, de 1994 a 2014. Por ora, Lula, o principal candidato do PT está preso e o candidato do PSDB anda mal nas pesquisas. Nos bastidores, até mesmo políticos tucanos dizem que o senador Aécio Neves, envolvido até o pescoço em acusações de corrupção é uma pesada bola de ferro amarrada no pé do candidato Geraldo Alckmin. Vale lembrar que o segundo turno da última eleição foi entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). A primeira caiu no impeachment e o segundo no escândalo da JBS. Conhecidos do eleitorado, Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) já disputaram duas eleições presidenciais e isso explica a pequena dianteira nas pesquisas eleitorais, mas quem está bem cotado nesses levantamentos é o ex-capitão do Exército. Jair Bolsonaro (PSL), o mais polêmico dos candidatos, faz um discurso que provoca reações de amor e ódio, favorável, por exemplo, à ampliação do acesso as armas e contrário ao casamento entre homossexuais.
Embora em eleição tudo seja possível e ainda exista um grande número de eleitores que definirão o voto na última hora, até agora, nada indica que os novos candidatos, de partidos pequenos, surpreendam. Nesse pelotão estão Guilherme Boulos (PSOL), João Amoedo (Partido Novo), Manoela D´Ávila (PC do B), Henrique Meirelles (MDB) e Afif Domingos (PSD). Pouca gente acredita que a candidatura de Rodrigo Maia (PFL) irá até o fim. No jogo pesado da sucessão presidencial até mesmo a candidatura de um veterano na política, o senador Álvaro Dias (Podemos) encontra dificuldades para decolar.
Enquanto a bola rolava na Rússia, por aqui, uma jogada manjada se repetia nos bastidores. Partidos que fazem parte do famoso “centrão”, siglas que possuem nos seus quadros muitos políticos envolvidos na Lava-Jato, articulavam um acordão para migrar em bloco em direção ao candidato mais palatável, com maiores chances de vitória, independentemente da ideologia, das propostas ou da fidelidade partidária. Entre outros, fazem parte desse conluio o PP, PR, DEM, PTB, PRB e o Solidariedade. Somente uma reação do eleitorado, poderia se contrapor a essa articulação que visa à manutenção do estado atual que permitiu a proliferação de esquemas corruptos. No entanto, os números mostram que o eleitorado tem se mostrado refratário à política. A abstenção eleitoral, incluindo votos brancos, nulos e ausências, cresceu nas últimas eleições. O percentual de desiludidos que já foi de 25% em 2006 chegou a quase 30% em 2014. Não dá para esquecer que todos os políticos e governantes que conduziram o país à situação atual foram eleitos pelo voto direto ou faziam parte da chapa mais votada. Embora muita gente não acredite mais, ainda há tempo. Apesar de o descrédito ser generalizado, o voto e a participação política têm o poder de mudar algo ou pelo menos evitar que algo pior aconteça.