
Estudar, eis a questão
Os números mostram que a pandemia está longe de arrefecer e que infelizmente faltam milhões de vacinas para que o coronavírus fique sob controle. No país, a média diária de mortes permanece acima de 1.000 e o número de infectados passa de 50 mil por dia. As UTIs estão lotadas e os profissionais da saúde esgotados em quase um ano de intenso trabalho. Ribeirão Preto já registra quase 1.100 mortes. Com estes números e este cenário, os pais precisam tomar uma decisão difícil: mandar ou não mandar os filhos para a escola.
Junto com as vacinas, o debate sobre a abertura e o fechamento da economia está entre as principais polêmicas da atualidade. De um lado, os que defendem o fechamento geral de todas as atividades não essenciais que envolvam riscos para tentar preservar o maior número de vidas. Na outra ponta, a corrente que defende a reabertura das atividades econômicas com as medidas de proteção. Essa encruzilhada também chegou ao ensino. A partir do segundo semestre quando ficou evidente que a volta à normalidade não ocorreria tão cedo, muitos educadores defendiam que não tem sentido manter algumas atividades econômicas funcionando com restrições e deixar as escolas fechadas. Os que discordam dessa posição sustentam que por ser um local que concentra um grande número pessoas as escolas não têm condições de oferecer segurança para alunos, professores e funcionários. Essa reabertura seria ainda mais arriscada no Ensino Fundamental, com as crianças menores de 12 anos. No ensino superior, também existem muitos estudantes que ainda menosprezam os riscos do coronavírus.
Depois de muitos embates, discussões e até agressões físicas e verbais, paulatinamente, as atividades econômicas caminharam para um sistema híbrido com fechamentos e aberturas mais flexíveis que se ajustam a realidade de cada localidade. O Estado de São Paulo é o maior exemplo disso. Durante o dia, a região de Ribeirão Preto está na fase laranja, mas a noite e aos finais de semana passa para a vermelha. Quase todos os setores podem funcionar com restrições de horários e de capacidade, enquanto todos aguardam por uma queda dos números de contaminação. O cancelamento do Carnaval caiu de maduro, pois embora seja uma paixão do brasileiro esta não é uma atividade essencial. Falta combater as festas clandestinas. Já a decisão de mandar ou não os filhos para a escola envolve as etapas do desenvolvimento, a saúde, o risco e o próprio futuro de cada estudante. Alguns educadores reforçam a importância do aprendizado nos primeiros anos de vida e por isso defendem a volta às aulas. Por falta de tempo e de recursos, muitos pais não conseguiram melhorar o aproveitamento dos filhos nas aulas on-line.
Para muitos, sob o ponto de vista da educação, 2020 foi um ano perdido que deixará sequelas. Com essa controvérsia, no calendário, chegou o dia da volta às aulas e os governantes precisaram decidir. Dirigentes estaduais e municipais convergiram para o sistema híbrido que já vem sendo aperfeiçoado na economia. Tanto no âmbito estadual, quanto no municipal, os responsáveis pela educação resolveram que as escolas abrem em fevereiro para um período de adaptação e depois as aulas recomeçam com número limitado de alunos. O ensino mediado pela tecnologia permanece. Na rede estadual, municipal e privada, os pais decidem se mandam os filhos para escola, obedecendo a uma lista de recomendações ou se eles permanecem em casa até que a vacinação ocorra em larga escala. Entidades que representam profissionais da educação discordam da decisão e prometem levar o caso à Justiça. A paternidade e a maternidade envolvem uma extensa lista de responsabilidades que vai da segurança à boa formação. Não há nada mais sério do que decidir sobre o futuro e a vida de uma pessoa, principalmente se ela ainda não atingiu a maioridade. Depois de meses de muita polêmica, a palavra final ficou com quem tem a responsabilidade e por isso o direito de escolha. Cada pai e cada mãe devem pensar com profundidade sobre a difícil decisão de mandar ou não os filhos à escola.