Estultices da Internet

Estultices da Internet

Estimado leitor, tome cuidado, não há nada mais arrasador do que uma onda de boatos. Vacine-se e fique de olho nas mensagens que você recebe pela internet. Não dá para acreditar em mais nada. A indústria do disse-me-disse já produziu estragos consideráveis em empresas, casamentos e reputações. A atriz Glória Pires quase teve sua vida particular destruída desde o momento em que se espalhou a notícia que seu marido estava tendo um caso com sua filha, Cléo Pires. O tempo provou que a fofoca não tinha o menor fundamento, mas o estrago já estava feito.

O boato mais famoso do mundo foi coisa de cinema, personificado por Orson Welles. Em 1938, o cineasta, autor do famoso Cidadão Kane, resolveu pregar uma peça na opinião pública americana. Welles convenceu uma rádio americana a adaptar uma obra de ficção científica. Depois de uma interrupção brusca na programação, um repórter entrou ao vivo dizendo que seres gigantescos com tentáculos estavam saindo de um meteoro. Era tudo ficção, mas o pânico se espalhou pelos Estados Unidos.

Aqui no Brasil, todo o dia tem alguém contando alguma lorota. O último boato da vez, com efeito multiplicador e instantâneo, foi a demissão do jornalista Alexandre Garcia, da Rede Globo, que precisou dar entrevistas a veículos de comunicação para desmentir a versão que circula pela internet. A notícia plantada dizia que Alexandre Garcia fora demitido da Rede Globo, depois de fazer pesadas críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governo, contrariado, teria pressionado a empresa a colocar na bandeja a cabeça de um dos seus jornalistas mais antigos. Pelo contrário, Alexandre Garcia adotou um discurso de esquerda, mas tem uma imagem atrelada ao poder, por muito tempo foi o porta-voz oficial do governo federal na Rede Globo. Garcia tem crédito na casa, portanto, até prova em contrário, a notícia de sua demissão é falsa.

Até no folclore caipira lá está o bendito boato, cantado na Vida Marvada, a mais famosa trilha sonora de Rolando Boldrin. “Corre um boato aqui donde eu moro, que as mágoas que eu choro são mal ponteadas, que no capim mascado do meu boi, a baba sempre foi santa e purificada, diz que eu rumino desde menininho, fraco e mirradinho a ração da estrada, vou mastigando o mundo e ruminando, e assim vou tocando essa vida marvada.”

Na semana passada, em Ribeirão Preto, também correu uma onda de boatos “marvados”. Imaginem o estouro dessa bomba! A revista Veja estaria na cidade para apurar um possível escândalo envolvendo o poder público e uma grande empresa da cidade. Notinhas pipocaram ali e acolá mas, pelo menos por enquanto, a “notícia” não passou de um boato. 

Inadvertidamente, no dia a dia, até mesmo o cidadão comum, pode prosperar histórias que ouviu de soslaio. Assim, doravante, cheque bem o teor dos seus e-mails, senão alguém pode colocá-lo na lista anti-spam de remetentes indesejados. 

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