
A ética da vacina
A ameaça de morte traz à tona a mais primitiva e selvagem das reações humanas: o instinto de sobrevivência. Foi a partir desse mecanismo de defesa que o ser humano adotou comportamentos de segurança, de reserva de alimentos e de reprodução para se preservar em um ambiente hostil. A letalidade da Covid 19 e a falta de vacinas exacerbaram esse sentimento. Como observou Charles Chaplin, o medo da morte faz com que o instinto de sobrevivência suplante o sentimento de solidariedade.
Desde a descoberta dos primeiros imunizantes, as potências econômicas se lançaram numa disputa feroz para comprar a maior quantidade possível de vacinas, em número muito superior à própria população. Quando a sobrevivência está em jogo desaparecem as diferenças entre o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o atual Joe Biden. A América atropela e vem com tudo em primeiro lugar. Cumprindo promessa de campanha, os EUA de Biden já estão vacinando, em todos os estados, a população saudável de 16 a 30 anos, enquanto em países pobres pessoas que fazem parte do grupo de risco ainda não tomaram nem a primeira dose.
No Brasil, apesar de algumas tentativas institucionais de implantar o “fura-fila”, até aqui, a vacinação segue a lógica da ética, ou seja, de acordo com a ordem de prioridade dos mais idosos para os mais jovens. Majoritariamente, a regra tem sido respeitada pela população, embora pipoquem fraudes em vários cantos do país. Recentemente, teve a enfermeira de Minas Gerais que protagonizou a “vacinação fake”. Em uma cidade do Mato Grosso, o CPF de pessoas mortas há cinco meses apareceram na lista de vacinação de março deste ano. Recentemente, a Controladoria Geral da União (CGU) fez uma auditoria com cruzamento de dados para verificar se a aplicação das vacinas estava seguindo os critérios do Programa Nacional de Imunização. Examinou uma amostra de 10 milhões de aplicações e encontrou 50 mil indícios de irregularidades, ou seja 0,5% do total. O número comprova que as fraudes existem, mas também atesta a honestidade da grande maioria.