
A evolução que assusta
As catástrofes e os alienígenas que viriam de outros planetas para destruir a Terra sempre estiveram presentes nas produções cinematográficas que anunciavam com muita emoção o final dos tempos. Bem, pelo menos por ora, não há nenhuma ameaça iminente a ser considerada vinda de uma galáxia distante. Os maiores perigos estão aqui dentro e não lá fora.
Nesta fase de dúvidas e de incertezas, muita gente busca ajuda no sobrenatural, nos profetas e nos gurus da contemporaneidade. Eles estão espalhados por aí, na internet, na produção livreira, em cursos e em palestras. Em quais previsões dá para acreditar e em quais tecnologias podemos confiar? A única certeza é que o mundo não funciona mais da forma como se desenvolveu até aqui. Palavras como inovação, disrupção e inteligência artificial estão cada vez mais presentes no dia a dia. A tecnologia 5G, que ainda nem chegou por aqui, permitirá uma troca massiva de informações, alterando radicalmente o relacionamento do homem com o meio ambiente.
Realidade aumentada, carros autônomos e a inteligência artificial estão apenas no começo de um rápido e profundo processo de implantação. Independentemente do perfil e do padrão da sociedade, sempre haverá quem detém o poder através do controle da tecnologia e das informações. Hoje, basta pesquisar algum produto na internet para que no mesmo instante as suas redes sociais, o e-mail e o celular recebam uma enxurrada de ofertas, numa demonstração evidente de que os seus dados pessoais estão sendo usados por organizações que você não conhece para vender produtos e serviços. Quando aceita algum serviço gratuito, como o WhatsApp por exemplo, implicitamente o usuário concordou que seus dados sejam compartilhados por desconhecidos interessados em vender algo ou na pior das hipóteses aplicar um golpe.
Por isso, cresceu barbaramente, via celular, a oferta de planos de telefonia, cartões de crédito, seguros e outros produtos e serviços que o usuário nunca solicitou. O sossego acabou. Seu número de celular não é mais privado, caiu no domínio público. A quebra das regras de privacidade permite o direcionamento dos anúncios, aproveitando as brechas deixadas por legislação incipiente ou inexistente. O aprimoramento dessas informações e o temido algoritmo, capaz de cruzar enormes volumes de dados, transformam os cidadãos conectados em verdadeiros produtos cujas características permitem uma classificação precisa. Sem que percebêssemos, a ordem do balcão de compra e venda foi invertida. Você pensa que é um consumidor poderoso, mas na verdade é um produto com as preferências que já foram mapeadas por robôs frios e calculistas.
Outra má notícia é que essa tecnologia engolirá milhões de empregos, mesmo em países como o Brasil onde as taxas de pessoas sem trabalho, que deixaram de procurar ou que nunca receberam uma oportunidade, sejam altíssimas. Em um curto espaço de tempo, contadores, caixas de supermercados e funcionários administrativos tendem a desaparecer e junto irão todas as atividades repetitivas que podem ser programáveis. Com os carros autônomos, o número de motoristas vai diminuir. Atenção jornalistas e escritores. Até a redação de textos que se imaginava como uma atribuição específica da mente humana está com os dias contados. Robôs já estão sendo programados para escrever artigos, produzir textos e fazer resumos.
Ingenuamente pensava-se que a investigação e apuração de fatos, a análise de dados eram reservas de mercado dos seres dotados de um cérebro. Na verdade, os algoritmos podem captar até mesmo as preferências artísticas de um espectador e influenciar na concepção de uma obra de arte. Quando se pensa no cruzamento de informações para a geração de um ser humano, esse tema fica ainda mais assustador. Em todo o mundo está aumentando a pressão de governos e dos cidadãos pelo controle dos dados que até aqui foram manipulados livremente pelas empresas da era digital. A tecnologia, no entanto, essa sempre está fora de controle, pois se move pelo interesse da novidade e pela busca de novos mercado e formas de poder, sem se importar muito com as consequências e resultados. Basta lembrar as invenções do fuzil, do canhão, da metralhadora e até da bomba atômica. O ser humano pode vir dotado de um amor ilimitado, mas também pode cometer terríveis maldades.