Exagero Midiático

Exagero Midiático

O tenso ambiente eleitoral brasileiro foi sacudido pelo atentado contra o candidato à presidência do PSL, Jair Bolsonaro, na véspera do dia 7 de setembro. A reação foi a que se esperava de um país e de uma democracia que tenta, minimamente, ser civilizada para oferecer perspectivas aos cidadãos. Todos os candidatos à presidência, as lideranças partidárias e todos os representantes das principais instituições do país, sem exceção, condenaram o ataque. Reafirmaram que não deve haver espaço para a intolerância, a agressividade e a violência, principalmente, em uma campanha eleitoral. Um atentado contra um candidato à presidência, seja ele o líder nas pesquisas ou o último colocado, atinge a República em cheio. Por isso, o responsável deve ser punido exemplarmente na forma da lei. O regime democrático também enseja uma lição de grandeza, pois respalda até mesmo quem não tem muito apreço por ele.

A partir do episódio, a mídia deu ampla cobertura ao atentado contra o candidato Bolsonaro. No DNA da democracia está embutida a defesa intrínseca da unidade e do respeito às regras. O ataque a um dos seus agentes necessariamente significa uma agressão a todos. Na etapa seguinte, vieram as análises das repercussões e das consequências do atentado. Uma breve passada pelas manchetes, da internet e dos principais jornais, revela que a mídia pintou o episódio com cores muito sombrias. “Facada em Bolsonaro mostra que essa é uma eleição de inimigos”, “Sem conter radicalismo, país descerá metros finais até a barbárie”, “Ataque a Bolsonaro abre dois caminhos: uma barreira de contenção e um precipício”, “Bolsonaro e o clima de morte do país” e “Ataque homicida levanta a poeira tenebrosa de outros confrontos políticos”, “O Brasil se afoga em um mar de bílis”, “Adelio Bispo esfaqueou Bolsonaro porque era de esquerda ou porque tinha distúrbios?”, “Difícil dizer se o agressor é diferente do sujeito que tentou matar Reagan para impressionar Jodie Foster” e o “O país está queimando, enquanto nossos bancos batem recordes obscenos”. 

Geralmente, os crimes estão envoltos em atmosferas de suspense, mistério e teorias conspiratórias. Salvo uma reviravolta no caso, sempre possível de ocorrer a partir das investigações, Adélio Bispo se trata de uma pessoa com problemas mentais que declarou ter “esfaqueado Bolsonaro a mando de Deus”. Seu atentado não incluía possibilidade de fuga, sua prisão era certa na multidão de manifestantes. Quem sabe, uma segurança um pouco mais atenta até poderia ter evitado a facada. Essa certeza da prisão afasta, por ora, a teoria “conspiracionista”, pois os eventuais mentores correriam sérios riscos de serem descobertos a partir da prisão do agressor. Também não prosperaram com um mínimo de fundamento as tentativas de estabelecer algum viés ideológico e partidário no crime. A prestigiosa banca de advocacia que se apressou em assumir a defesa do réu certamente foi movida pela generosa mídia espontânea e pelos anos de fama que um caso tão emblemático proporciona.

Portanto, por ora, esses elementos indicam que o atentado foi uma atitude tresloucada de uma pessoa com problemas mentais cujo comportamento não representa o perfil político nacional. O Brasil possui 207 milhões de habitantes e 144 milhões de eleitores e com certeza a maioria absoluta da população não pensa em sair esfaqueando adversários políticos. Infelizmente, tanto no Brasil como em vários países do mundo, pessoas fora do juízo normal, cometem crimes e atentados. Desde 1989, portanto, há quase 30 anos, essa é a primeira vez que uma eleição presidencial registra dois episódios graves: o atentado a Bolsonaro e os tiros na caravana do ex-presidente Lula em março deste ano.

Salvo algumas escaramuças aqui e acolá, todas as eleições transcorreram em um clima de normalidade. Certamente no país existem redutos controlados por traficantes onde o voto sofre a influência das armas, mas essa é uma realidade que transcende o momento eleitoral. Uma das manchetes mais alarmantes dizia que “mortes e atentados fazem parte do histórico de ações contra políticos no Brasil”. Pelo menos no contexto das eleições presidenciais, os episódios mais trágicos remontam ao longínquo atentado contra Carlos Lacerda em 1954. A violência em qualquer esfera preocupa e nunca pode ser menosprezada. A vigilância sempre deve ser reforçada, mas, felizmente, o agressor de juiz de fora não representa uma tendência de comportamento político do eleitor brasileiro. Hora de focar no voto. 

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