Falta para cartão

Falta para cartão

A última vez que ocorreu um grande escândalo no futebol brasileiro foi em 2005. Árbitros manipularam jogos do Brasileirão e ao final do campeonato 11 partidas foram anuladas e tiveram que ser disputadas novamente. Um dos principais personagens daquela fraude foi ex-árbitro, Edilson Pereira de Carvalho, que teve o registro suspenso e foi definitivamente proibido de apitar. Edilson também foi condenado na Justiça Desportiva. Sua atuação parcial favorecia apostadores de loterias clandestinas na Internet. O ex-juiz ficou desempregado, teve os bens bloqueados e em entrevistas que concedeu depois do episódio disse que aceitou o suborno porque estava com dificuldades financeiras. 


De lá para cá, o assunto corrupção no futebol e manipulação de resultados ficou esquecido. Os apaixonados torcedores brasileiros ficam alegres e até sofrem com seus times, pensando que dentro das quatro linhas existe uma disputa leal e sadia pela vitória. Há cerca de um mês, o Ministério Público de Goiás demostrou que isso não passa de uma doce ilusão. Só na ponta do iceberg, a investigação revelou que pelo menos 60 jogadores do futebol brasileiro, da primeira e da segunda divisão, estão envolvidos nesse escândalo.

 

O mais famoso acusado é o zagueiro Eduardo Bauermann, do Santos, já afastado pela diretoria do clube. Quatro jogadores já fizeram delação premiada e 15 viraram réus na Justiça de Goiás. O objetivo dessa corrupção era assegurar a ocorrência de eventos em determinadas partidas: cartões amarelos, escanteios, pênaltis, expulsões e até o resultado da partida no primeiro tempo. Os valores prometidos aos jogadores variavam de uma mesada de R$ 5 mil até R$ 500 mil. 


Os sites de apostas são considerados vítimas desse esquema, obviamente, junto com milhares de torcedores que assistiam aos jogos nos estádios ou em frente à TV. Até então, quando um jogador reclamava demais até tomar um cartão amarelo ou ser expulso, fazia um pênalti desnecessário ou errava um gol feito, torcedores e a imprensa esportiva achavam que isso fazia parte do imponderável do futebol, a imprevisibilidade que mantém vivo o interesse pelo esporte. Vendo o desdobramento da operação “penalidade máxima” chega-se a óbvia conclusão de que o milionário futebol brasileiro faz parte de um contexto social e político e não está imune às chagas da corrução.

Compartilhar: