A Felicidade à Dinamarca

A Felicidade à Dinamarca

Na virada do ano que passou, lá estava ela em todas as mensagens de fim de ano, nos cartões de papel e na internet , nos programas de TV e nos cumprimentos dos amigos e dos familiares. Sem levar em conta o oposto, as tragédias que sempre marcam presença nessa época, a felicidade aparece como o tema mais comentado, mais lembrado, mais pensado, onipresente e sobre o qual repousam enormes anseios, angústias e expectativas. Televisões fizeram programas inteiros mostrando princípios, colunistas apresentaram pontos de vista, psicólogos, analistas, professores de terapias alternativas enumeraram conceitos e definições sobre a sensação que todo o santo dia, pelo menos em algum momento, toma conta da mente de cada ser humano. O que estou fazendo agora me deixa mais ou menos feliz? Embora seja difícil enquadrar a vida em um sim ou não, você caro leitor (a) é feliz com a vida que leva?

O assunto desperta tanto interesse que até a Organização das Nações Unidas (ONU), em tese guardiã de todos os interesses mundiais, encomendou uma pesquisa para descobrir qual é o país onde moram os mais felizes do mundo. Não deu Argentina, nem Brasil, Cuba, muito menos Alemanha ou Estados Unidos. Segundo os critérios da ONU, os dinamarqueses (que inveja) são a população mais feliz do mundo, levando em conta uma série de fatores, tais como perspectivas de vida, Produto Interno Bruto (PIB) per capita da população, expectativa de vida saudável, liberdade e percepção da corrupção no país (nesse quesito o desempenho brasileiro deve ter desabado na pesquisa). Foi comprovado que os elevados índices de educação, saúde e renda ajudaram os dinamarqueses a esquecer pequenas preocupações. Eles ficaram livres para se concentrar em questões mais importantes como a convivência em grupo, a realização de atividades ao ar livre, andar de bicicleta, o contato com a natureza e, principalmente, a confiança em outras pessoas, até mesmo nos desconhecidos. Quando perguntados se os desconhecidos são dignos de confiança, cerca de 70% dos dinamarqueses disseram que sim, no Brasil, apenas 7% foram afirmativos. Esse quesito importante para a percepção da felicidade revela o grau de confiança das relações, ou seja, em quem as pessoas podem confiar ou pedir ajuda nas horas difíceis.

As prateleiras estão cheias de livros de autoajuda com um sorriso na capa e a ciência está mapeando o genoma dos mais felizes. Uma conclusão desses estudos bate com o resultado da pesquisa da ONU na Noruega, que certamente você já leu ou ouviu falar: somos seres gregários, gostamos de viver rodeados por pessoas amigas, se possível confraternizando e compartilhando refeições e outros momentos. Pelo menos na Dinamarca, o senso de comunidade, de pertencimento a um ou mais grupos sociais, eleva os níveis dos “hormônios da felicidade”. A propósito desta afirmação, vale perguntar se você sabe o nome dos seus vizinhos ou se sabe apenas a cor da casa ou o número do apartamento em que eles moram.  

Para nossa infelicidade, é difícil fazer um curso intensivo com os primeiros colocados do ranking.  A Dinamarca é um reino muito distante, onde a corrupção quase inexiste, originário de outra cultura, mas podemos viajar pelo próprio país, pela nossa cidade, desvendar a família, conhecer os amigos profundamente e identificar as circunstâncias que possam nos deixar mais ou menos felizes. Nessa reflexão, a questão mais antiga e sobre a qual não há consenso refere-se ao peso do dinheiro. A felicidade passa longe dos bens materiais ou o dinheiro ainda tem o poder de mandar buscar? “Vencer na vida” pode ser traduzido como uma gorda conta bancária?

Teóricos do pensamento sustentam que o mundo está entrando em uma fase pós-opulência e que os rompantes financeiros, ainda muito praticados por alguns, estão ficando meio fora de moda. Os valores ligados à sustentabilidade, ao compartilhamento e ao tempo livre são mais chics que o consumo exagerado. Quem diria, mas hoje até o fashion pode ser o mais barato.  Talvez os indicadores de felicidade estejam nessa linha, evidenciando como mais feliz quem consegue comer devagar, andar com calma, conversar com tempo, dormir sossegado e exercitar-se durante o dia. Sabe ser feliz quem não se torna prisioneiro dos próprios desejos, quem gosta de si mesmo, quem não perde o equilíbrio facilmente e é sabedor de que a felicidade está associada às amizades, aos encontros amorosos que a vida proporciona, sejam eles os efêmeros ou os duradouros. É mais feliz quem não perde a oportunidade de captar a felicidade que está ao alcance dos olhos. Espero que, em 2015, essa pessoa seja você!

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