A Fibra verde da Seringueira

A Fibra verde da Seringueira

De uma hora para outra, a candidata do PV virou a joia da eleição. Nos próximos dias, anuncia o que fará no segundo turno. Embora pareça um contrassenso afirmar que alguém ganhou perdendo, Marina Osmarina Silva Vaz de Lima, 52 anos, cavou na eleição que passou um lugar na história política do país ao conquistar, de forma surpreendente, quase 19% dos votos válidos ou 19 milhões de eleitores.

Tal qual o presidente Lula, Marina tem o sobrenome mais popular do país: o Silva que batiza majoritariamente a população mais simples e mais carente. No entanto, sua aparência frágil esconde uma mulher de personalidade forte e determinada. Corre nas veias, evidenciadas em seus discursos mais enfáticos, a verde fibra da dedicação a uma causa. Uma só informação de sua biografia já revela a vida inóspita que os seus pais enfrentaram. Três irmãos de Marina não sobreviveram às precárias condições de vida na infância, algo que a candidata não esquece.

Com sua campanha ética, Marina Silva provou que mesmo alguém que era analfabeta até aos 15 anos pode dar uma reviravolta na vida, participando da política com dignidade. Na sua trajetória, esforçou-se para superar as limitações intelectuais com um discurso franco que cativou uma parcela expressiva do eleitorado, que andava meio entediada com a polarização entre o PT e o PSDB. Esse confronto já se repetia há 16 anos no país, desde 1994, quando Lula enfrentou Fernando Henrique pela primeira vez.

A afirmação da ex-ministra do Meio Ambiente no cenário nacional também revela que uma boa parte do eleitorado brasileiro ainda presta mais atenção na forma do que no conteúdo. Na hora de decidir o voto, teve gente que levou mais em conta o estilo do penteado ou a opção religiosa da candidata do que o conteúdo das propostas.

Além de pavimentar a terceira via política no país, a ex-senadora deu outra contribuição importante. Conseguiu inserir na agenda política nacional, a urgência para definir os parâmetros do desenvolvimento sustentável. Nenhum partido ou candidato será dono da agenda verde, mas de agora em diante as questões relacionadas ao meio ambiente estão definitivamente incorporadas aos discursos e aos programas das legendas que aspiram a um bom desempenho eleitoral.

Certamente, depois do estrago na candidatura de Dilma Roussef, hoje muitos petistas lamentam a saída de uma militante tão valiosa. Ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula, a candidata do PV rompeu com o PT quando o atual governo perdeu a cerimônia para passar o trator por cima das áreas verdes do Pantanal, atendendo à pressão do ex-governador do Mato Grosso, Blairo Magi. Deixando de lado as preferências partidárias, a ex-seringueira mostrou para o país que uma pobre mulher do Acre, de sobrenome Silva, defendendo uma boa causa, pode fazer a diferença em uma eleição presidencial e sair da disputa como uma nova liderança nacional. A era dos anos verdes pode seguir adiante com Marina.

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