Fim melancólico

Fim melancólico

O release, relatório de notícias, enviado por e-mail, diariamente, pela Assessoria de Comunicação de Social retrata bem o estado atual de penúria da Prefeitura de Ribeirão Preto. Tempos atrás, o release eletrônico circulava com muitas informações das atividades dos vários setores da administração. Mesmo que seja um instrumento de promoção política da administração, filtrando a propaganda e o marketing, uma boa parte do conteúdo interessa ao cidadão e à imprensa. Nos últimos dias, sem iniciativas concretas para mostrar, o raquitismo do noticiário dava dó. Na segunda-feira, 19 de setembro, por exemplo, o magro noticiário da administração e das dezenas de secretarias e órgãos denunciava que não há nada de muito relevante acontecendo. Já vigora o clima de fim de festa em que ninguém espera por algo relevante. Fazia parte do relatório enviado por e-mail, o resultado de uma equipe de caratê, o convite para prestação de contas da saúde e as campanhas de vacinação e de trânsito. 

O que ocorre na Prefeitura também se verifica com a pauta da Câmara de Vereadores. Apesar de a cidade estar cheia de problemas e de irregularidades, a maioria dos assuntos gira em torno de banalidades como concessão de títulos e de honrarias. Nesse momento, semiparalisada por falta de quórum, o principal assunto em pauta é um assunto interno da própria corporação, se chama ou não chama os suplentes para os lugares dos nove vereadores afastados.

Mesmo lá no início, o planejamento e os projetos de médio e de longo prazos nunca foram o forte da administração da prefeita Dárcy Vera (PSD). Essa falta de visão administrativa fez com que o governo atual se tornasse refém dos problemas da cidade até se perder completamente em irregularidades. Hoje, com as gravações divulgadas pela Sevandija, dá para concluir que os problemas da cidade nunca foram prioritários para o chamado núcleo duro da administração municipal, da qual faziam parte o secretário da Educação, Ângelo Invernizzi, e os homens-fortes do governo, Marcos Antonio dos Santos, superintendente do Daerp e da Coderp, e Layr Luchesi, chefe da Casa Civil e secretário de Esportes, e a própria Dárcy Vera. Havia outros assuntos mais prementes. Ângelo Invernizzi, Layr Luchesi e Marco Antonio dos Santos estão presos na Penitenciária de Tremembé. 

Constrangida pelo noticiário e esquivando-se da imprensa, a prefeita não tem tido muito tempo para se preocupar com a administração da cidade. Em duas ocasiões, Dárcy Vera deu longas explicações à Procuradoria Geral do Estado sobre as inúmeras acusações de fraudes na administração. Para complicar ainda mais a situação, Luiz Mantilla, o pivô das irregularidades do Daerp decidiu “colaborar” com a Justiça.

Como os principais articuladores políticos são alvos principais da operação Sevandija, a cidade mergulhou numa espécie de ostracismo, um limbo político e administrativo que reflete negativamente até mesmo na iniciativa privada. Em Ribeirão Preto, só se fala de corrupção e de cafezinho. Hoje, os olhos dos ribeirãopretanos estão voltados à Polícia Federal, ao Ministério Público e ao Judiciário para ver quais serão as decisões que determinarão o futuro da cidade e dos envolvidos. Mesmo o cidadão comum está ansioso para saber o que será decidido. Diante de tantas denúncias, provas, gravações e conversas escandalosas, o eleitor aguarda pelo veredito da Justiça. Há um clamor para que tantos crimes não fiquem impunes. Algumas perguntas estão no ar à espera de respostas. Qual será o futuro dos nove vereadores que foram afastados? Daqui a duas semanas, qual será o recado que o eleitor vai mandar através das urnas? O que acontecerá com todos os envolvidos em graves acusações de corrupção?

As opiniões se dividem. Para os otimistas, faltam apenas três meses para o governo acabar. Para os pessimistas, faltam longos três meses para que essa gestão termine.  O balanço final desta administração apresenta um resultado devastador. A última pesquisa do Ibope mostrou que quase a totalidade dos ribeirãopretanos (97%) reprovam o governo da prefeita Dárcy Vera. Nove em cada dez cidadãos classificam a administração como ruim ou péssima. Meses atrás, o promotor Sebastião Sérgio da Silveira denunciou que Ribeirão Preto era “terra arrasada”. A Sevandija mostrou que cidade também foi assaltada, não somente pela quadrilha que explodiu a empresa de valores Prosegur. 

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