História a ser escrita

História a ser escrita

Se a intelectualidade brasileira não produzir textos críticos e independentes, os oito anos do governo se tornarão um grande mistério para as novas gerações. Na medida em que tempo passa, os estudiosos atuais e os historiadores do futuro enfrentarão sérias dificuldades para entender o que de fato aconteceu no país nesses últimos dois governos se tentarem compreender o que ocorreu lendo as reportagens dos principais jornais e revistas.

A grande imprensa e a maioria do povo possuem visões antagônicas sobre o balanço do governo Lula. O político que deixou o poder com um índice de 83% de aprovação frequentemente é objeto de ironia, de desprezo e de pesadas críticas da imprensa. Uma das últimas peças raivosas do antilulismo foi produzida pela revista Veja na edição de 29 de dezembro de 2010. Em uma longa reportagem de 18 páginas assinada por jornalistas e colunistas que ostensivamente assumem um discurso antilula, a revista desanca o presidente a quem classifica “como o mais ardiloso corrupto da história da República”.

Em duas fotos, Lula aparece em pose de macaco. Lá pelas tantas, os jornalistas se deparam com uma questão complexa. Se Lula foi essa tragédia propalada pela mídia nacional como pôde sair do governo com um índice de aprovação que nem o mundial líder negro Nelson Mandela obteve? Na página 241 desta referida edição da Veja, em uma pérola do jornalismo editorializado à revelia dos fatos, a revista conclui, “por supuesto”, que a maioria não sabe nada. “Maiorias servem para escolher quem vai governar; não é sua função definir o que é bom  ou ruim ...” Então, está! No verso dessa mesma moeda, o governo Lula tomou algumas iniciativas para impingir aos anais da história, goela abaixo, a ideia de que os últimos oito anos significam a mais fantástica evolução da sociedade brasileira, em todas as áreas que envolvem a vida humana, desde que Cabral por aqui aportou em 1500.

Sem se dar ao trabalho ler as peças que encomendou aos seus assessores, Lula inclusive mandou registrar em cartório um catatau de 2.200 páginas dizendo que as suas realizações são maiores que os feitos de todos os demais presidentes somados. Eis a razão filosófica que embasa o “nunca na história deste país.” Diz um velho ditado que em uma guerra a primeira que morre é a verdade. Falta na mídia e, portanto, no país uma análise criteriosa, distanciada, capaz de esmiuçar seriamente o que ocorreu em cada área, sem que a avaliação seja minada pelas emoções da política.

Talvez essa seja uma missão impossível, mas já que a grande imprensa não preencherá essa lacuna, sobra para a intelectualidade, boa parte dela abrigada nas universidades e nas instituições de ensino superior, a missão da radiografar os emblemáticos anos de 2003 a 2010 na economia, na política, na administração pública, na educação, no meio ambiente, na infraestrutura, na ciência e tecnologia e nos outros setores para apontar as lacunas deixadas e os desafios a serem vencidos. Para isso, é preciso se deixar de lado a raiva ressentida explícita nos textos de uma parcela dos jornalistas da grande imprensa e os elogios laudatórios que os áulicos assessores de Lula são mestres em produzir. 

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