Hora do voto

Hora do voto

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acertou quando decidiu manter a eleição para vereador e prefeito este ano, embora haja o risco que envolve o deslocamento e a concentração de 147 milhões de brasileiros em locais de votação. Com as medidas de proteção que foram adotadas, os riscos foram minimizados, mas continuam existindo. Se a saúde tem um valor vital na vida de uma pessoa, a democracia também é fundamental para a liberdade e a vida política de um país. Não existe democracia sem voto e a escolha de bons governantes é imprescindível para manter a sociedade minimamente organizada para fazer frente aos históricos problemas sociais, entre eles, o desemprego, as deficiências da educação e as crescentes demandas da saúde. 

Por experiência própria, num passado recente, Ribeirão Preto já viu que as más escolhas de governantes levam a cidade para o caos da corrupção. Recuperar o estrago feito por administrações caóticas custa caro e demanda tempo. Quando não se faz manutenção adequada, por exemplo, máquinas da Prefeitura ficam sucateadas e os prédios públicos se deterioram. A administração pública passa a prestar serviços de má qualidade. Ao contrário do que parece, escolher bons representantes não é tarefa fácil, mas algo que precisa ser feito com zelo. Basta olhar a história da política local, do estado e do país para constatar que ela está cheia de enganos. Não foram poucas as vezes que milhares de eleitores foram seduzidos pelo discurso fácil e por propostas ilegais que não podem ser aplicadas. Mesmo fazendo uma demagogia barata, já teve gente eleita com uma enxurrada de votos. No final acaba processada, afastada do cargo público e até presa. No submundo da política, longe dos olhos da opinião pública, imperam os acordos, os arranjos e os interesses particulares que nunca chegam à superfície, pois são manipulados por grupos organizados. Um dos conceitos mais antigos da política ensina que não existe vácuo de poder. Alguém assumirá as instâncias administrativas com propósitos nobres ou escusos, sejam eles explícitos ou implícitos. Cabe ao eleitor descobrir quem é quem no meio da multidão de candidatos. 

Por isso, todo o voto consciente é importante para escolher bons representantes, renovar quando for preciso e colocar em cargos chaves pessoas capacitadas e íntegras. Nesse caso, o consciente significa uma escolha minimamente embasada no senso crítico, em informações sobre o candidato e suas propostas. Da forma como foi desenhado, o atual processo eleitoral não favorece o amadurecimento dessa escolha. Pelo contrário, a propaganda eleitoral gratuita não privilegia o conteúdo. Os candidatos aparecem de forma monótona e superficial em escassos segundos. 

Para conter os abusos do passado, a legislação engessou o processo eleitoral, reduziu o tempo de campanha e restringiu as peças publicitárias. A crise financeira impediu a estruturação de campanhas mais organizadas para buscar o contato com os 442 mil eleitores de Ribeirão Preto. A disputa migrou para a internet onde não existe um debate coletivo para esclarecer posições. As discussões são individualizadas entre candidatos e eleitores. Na eleição para vereador tem uma novidade pouco debatida. Surgiram as candidaturas coletivas com a participação de um grupo, embora uma pessoa só seja o concorrente oficial. Para prefeito, em função da pandemia, este ano ocorreram menos debates e intervenções em espaços públicos. 

Um ponto forte são as urnas eletrônicas que garantem a legitimidade do processo e a rapidez da apuração, ao contrário da celeuma que ocorreu nos Estados Unidos. O eleitor tem a certeza de que a decisão das urnas será respeitada. Se a tradição for mantida e nenhum imprevisto ocorrer, as máquinas cumprirão a sua função com a costumeira precisão mecânica. Ao eleitor, cabe a tarefa mais difícil: tomar todos os cuidados para se prevenir contra o coronavírus e escolher candidatos íntegros que tenham uma noção consistente da importância e da responsabilidade que envolve a eleição para um cargo público. Para isso, não há nenhum manual de instrução, só o grau de consciência política de cada um. Bom voto!

Foto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil

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