Inimaginável mundo novo

Inimaginável mundo novo

Em um curto espaço de tempo, cerca de 30 anos, a evolução tecnológica deu saltos com profundos impactos na vida das pessoas. Surgiram as redes sociais que deram voz a bilhões de anônimos e transformaram os relacionamentos sociais. Em grande parte, as relações pessoais migraram para o terreno da virtualidade superficial. Mesmo antes da pandemia, já não se recebiam mais tantos abraços e cumprimentos na comemoração de um aniversário. A demonstração de afeto hoje pode vir pela figurinha do dedão positivo ou do sorrisinho do emoji. A internet também revelou uma face sombria do preconceito e do racismo que até então viviam camuflados no meio das falsas aparências do “mundo civilizado”. Junto com a enxurrada de posts vieram o bullying, o cancelamento, o bloqueio e as milícias digitais numa escalada sem fim de atrocidades. Se antes a busca era pela privacidade, agora há uma opção pela exposição exagerada que torna público os sentimentos íntimos, os problemas de saúde e até o luto.

Quem pensa que as mudanças já foram profundas demais até aqui pode se preparar, pois ainda há um longo caminho pela frente, principalmente quando for implantada no país a tecnologia 5G. O Brasil, para variar, está atrasado nesse processo, envolto numa discussão ideológica que pode nos colocar na rabeira da implantação dessa tecnologia de ponta. Em cantos opostos do ringue estão as tecnologias americana e chinesa para a implantação do 5G, que, nos próximos 10 anos, vai digitalizar o mundo físico e redimensionar a vida que conhecemos até aqui. O nosso processo está emperrado nessa encruzilhada para optar pela tecnologia americana ou chinesa. Mais dia, menos dia, essa decisão será tomada e à medida que esse mundo se aproxima sentiremos os impactos na forma de vida a que estamos acostumados. 

Em pouco tempo, o que era inimaginável acontecerá. Veremos objetos “conversando”. Nossas habilidades ao volante serão substituídas pelos sensores que conduzirão os veículos com precisão milimétrica. Os computadores dos carros, sem erros ou distrações, decidirão quem freia e quem acelera. Chegará o dia em que morrer em um acidente de trânsito terá a mesma probabilidade de ganhar na mega-sena com um jogo simples, uma chance em 50 milhões. O que diferencia a tecnologia 5G das demais são a velocidade e a capacidade. A nova tecnologia tem potencial para conectar com rapidez 100 bilhões de aparelhos, enquanto que a população da Terra se encaminha para 8 bilhões de seres humanos. Na Medicina, por exemplo, será possível que um médico à distância, possa manejar o stick de um robô e realizar uma cirurgia de próstata. Isso será possível por conta da velocidade dessa nova banda, uma quantidade imensa de dados sairá de um aparelho e executará o comando instantaneamente. Ainda no campo da Medicina, as doenças não irão mais nos surpreender, pois será possível acompanhar em tempo real, os sinais vitais do corpo, sejam as batidas do coração, a pressão arterial ou a elevação da temperatura. 

A tecnologia é neutra, por si só não faz bem ou mal, o uso feito pelo ser humano é o fator determinante. Por isso, essa fantástica evolução que hoje parece filme de ficção científica — quem duvida que em breve haverá a oferta de um pacote turístico para conhecer Marte — não nos trará um mundo glamoroso, um futuro sem contradições e conflitos. O risco mais perceptível parece que já está em curso. À revelia, tal qual um detetive onipresente, o algoritmo nos vigia, já sabe de cor as nossas preferências e trabalha sorrateiramente para influenciar o nosso comportamento. Há esse perigo iminente e por isso a privacidade será uma questão central nessa nova forma de organização social para impedir que os governantes manipulem os dados e a vida dos governados. 

Compartilhar: