A lama do Brasil e do Rio Doce

A lama do Brasil e do Rio Doce

Agências internacionais rebaixaram a nota do Brasil que, perante o mercado mundial, passa a ser um investimento de alto risco. As cidades brasileiras, incluindo o Rio de Janeiro, sede dos Jogos Olímpicos, continuam registrando altos índices de violência. Em Copacabana, uma turista Argentina foi esfaqueada e morta. Um professor universitário peruano, radicado no Brasil, também foi vítima da violência na Cidade Maravilhosa. A ONU denuncia que no Brasil 50 mil pessoas, por ano, são assinadas, jovens negros em sua maioria. O país enfrenta um ataque de doenças transmitidas pelo mosquito aedes aegypti, dengue, zika (microcefalia) e chikungunya. Um caos que lembra o início da civilização, época em que a Medicina era incipiente e a população ficava à mercê das doenças contagiosas. Todos os dias, a estatística sobe e, nesse cenário desolador, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, muito criticado pela sua indicação meramente política, com pouca expressão na área, licenciou-se do cargo por alguns dias para reassumir a vaga de deputado e votar em uma liderança de confiança do Planalto. 

As investigações da Polícia Civil de Minas Gerais concluíram pelo indiciamento de sete pessoas, que seriam os responsáveis pela tragédia de Mariana, episódio em que 19 pessoas morreram e a vida de uma comunidade foi devastada. A empresa alega que não houve falhas e que todas as medidas de segurança foram tomadas. Houve, no mínimo, uma enorme omissão de órgãos estaduais e federais que fizeram a fiscalização com vistas grossas e deixaram explodir a represa entulhada de rejeitos, causando danos irreparáveis ao meio ambiente. A lama continua escorrendo pelo Rio Doce e pelas veias do Brasil. Em 2013, a mesma vista grossa, nesse caso do Corpo de Bombeiros e de uma fiscalização municipal, permitiu que uma boate funcionasse sem condições de segurança em Santa Maria. Por mais essa omissão, 242 jovens perderam suas vidas. Três anos depois, ninguém foi julgado nem mesmo em primeira instância. 

Quase todos os dias, algum figurão do atual e do antigo governo é detido, num entra e sai da cadeia que fica até difícil saber quem está preso e quem está solto. Quem se livrou das grades foi ex-líder do governo no senado, Delcídio do Amaral, que foi pego com a boca na botija, aconselhando um réu a fugir da Justiça, ao mesmo tempo em que declarava ter no bolso do colete meia dúzia de ministros do Supremo Tribunal Federal. Por ora, no regime semiaberto, o presidiário de meio expediente, Delcídio, saiu da cadeia cheio de razão, disposto a permanecer no Senado a qualquer preço. Sem perder tempo, o senador do Mato Grosso mandou um recado aos colegas: “se for cassado, levo metade do Senado comigo”. O presidente do Senado, Renan Calheiros, que escuta muito bem e também tem culpa no cartório, entendeu o recado e declarou que ninguém deve ter muita pressa em condenar o ex-líder petista. Levou em conta aquela velha parábola: “que atire a primeira pedra quem não tiver pecados”. Enquanto isso na Câmara dos Deputados, o presidente Eduardo Cunha vai tocando em frente seu mandato, já que o processo contra ele na comissão de ética, literalmente, não sai do lugar. 

A cereja desse lamaçal foi a prisão do marqueteiro João Santana, responsável pelas três últimas campanhas presidenciais do PT, duas de Dilma Rousseff e uma do ex-presidente Lula. Duda Mendonça, responsável pela primeira campanha de Lula em 2002, enfrentou processo semelhante. O Ministério Público Federal acusa o marqueteiro de ter recebido R$ 30 milhões no exterior, dinheiro que seria oriundo de propinas recebidas por empresas que assaltaram a Petrobrás. Enquanto o Ministério Público Federal diz que só pede a prisão de pessoas contra as quais existam provas robustas, o PT se defende afirmando que tudo foi feito na mais absoluta legalidade. Os tesoureiros e os parlamentares presos, a série infindável de delações premiadas e a prisão dos marqueteiros que fizeram as campanhas presidenciais, na versão petista, fariam parte de uma campanha da imprensa preconceituosa e da oposição que não se conforma com a derrota. Na propaganda eleitoral gratuita, o ex-presidente Lula, que ficou 111 vezes num sítio luxuoso que não era dele, foi apresentado como uma grande vítima dessa conspiração. Num tom resignado, Lula reconheceu alguns erros, mas disse que os acertos foram maiores.

O povo foi para a janela bater as panelas. 

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