A legião de informais

A legião de informais

A pandemia tornou mais evidentes fragilidades econômicas e a precariedade da saúde em algumas regiões, demandas que foram relegadas por décadas por sucessivos governos. Inúmeras distorções apareceram. O país consegue fabricar celulares e carros de luxo com tecnologia sofisticada, mas de uma hora para outra ficou dependente da China para comprar respiradores. Muitos governos estaduais perderam milhões de reais, pois pagaram por equipamentos que nunca foram entregues ou que chegaram fora das especificações. Ainda teve a epidemia de fraudes e de corrupção, mesmo diante de uma crise tão dramática.

Para a definição de estratégias e de prioridades, informações confiáveis são fundamentais para que a economia e a saúde, para citar apenas dois exemplos, sejam objeto de políticas públicas assertivas e bem elaboradas de acordo com a realidade brasileira. Na contramão dessa lógica elementar de planejamento, o Brasil ficou 10 anos sem a realização do censo demográfico do IBGE, a mais importante pesquisa do país, que deverá será realizada em 2021.

Informações precisas são fundamentais para o planejamento e a elaboração de políticas públicas e ainda evitam surpresas desagradáveis. Foi preciso que uma pandemia, em pleno Século XXI, desse a real dimensão da desigualdade que o país precisa superar. O auxílio emergencial proposto pelo governo federal e que agora foi prorrogado até dezembro deste ano revelou que a economia informal do Brasil tem o dobro do tamanho da formal. Só agora se descobriu que as pessoas que ganham a vida como ambulantes, nas ruas, avenidas e portas dos viadutos, os autônomos, as trabalhadoras domésticas que sustentam famílias e os profissionais autônomos totalizam 65 milhões de brasileiros.

São pessoas que não têm previdência e nenhum tipo de suporte. Precisaram ficar longas horas nas filas para receber o benefício. Os trabalhadores da economia formal são cerca de 30 milhões. Assim, à revelia dos governantes, a economia brasileira roda pelos desconhecidos caminhos da informalidade. Para se tornar um país desenvolvido, esse é um desafio que precisa ser vencido. No momento em que mais uma eleição se aproxima, o tema se torna relevante e o eleitor deve levar em conta na hora de escolher os futuros dirigentes.

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