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Desde a eleição presidencial do ano passado, o noticiário político não esfriou. O ano virou, mas o debate pós-eleições continuou quente com os escândalos de corrupção, as prisões de grandes empresários e influentes dirigentes partidários, listas de parlamentares envolvidos e duas expressivas manifestações de rua. Na administração de um país, a política e a economia são indissociáveis, pois a segunda depende diretamente da primeira. Nas três esferas de poder, a resultante da economia sempre deriva da decisão do agente político. Justamente por isso, nem a política e nem a economia são atividades neutras. Na conjuntura atual do país, o debate está contaminado, pois a dissensão política está influenciando a economia negativamente.
No momento, o cidadão mais humilde e o grande empresário estão preocupados com as consequências da desaceleração econômica. Os mais antigos certamente lembram do período de instabilidade que o país enfrentou por décadas até a consolidação do Plano Real em 1994. As manchetes diárias dos jornais deixam a forte impressão de que o filme de pesadelo está voltando. Algumas perguntas precisam ser respondidas. Qual é a verdadeira extensão da crise atual? Depois de 20 anos de estabilidade, o pesadelo da inflação está de volta? Qual a perspectiva para este ano que está apenas no primeiro quadrimestre? O ano de 2015 já pode mesmo ser considerado perdido? Quais as consequências que a recessão e o desemprego trarão para as classes de menor poder aquisitivo? Para interpretar melhor a crise atual, vale a pena fazer um exercício de abstração, um corte seco para tentar examinar o noticiário, friamente, sem o viés do ambiente político, extremamente polarizado e envenenado justamente pela crise política que asfixia o ambiente econômico. Na discussão do impeachment, por exemplo, percebe-se claramente que as mídias sociais estão exalando raiva e ódio em um grau sem precedentes na política brasileira. Expressões como guerrilha virtual estão ficando corriqueiras. Fundamental, a análise política serve para responsabilizar os culpados pela crise, mas o exame econômico mais acurado permite que o cidadão compreenda melhor a gravidade econômica e possa se proteger para tentar minimizar os efeitos.
Não é necessário ser um especialista em economia para constatar que, neste começo de 2015, há uma avalanche de notícias econômicas preocupantes. Apesar de o discurso oficial ter negado a crise por muito tempo, o cidadão sabe que o vizinho ficou desempregado, percebe que na feira os preços dispararam e a que a conta da energia elétrica dobrou nos últimos meses. Por causa do aumento do combustível, ficou bem mais caro andar de carro e até mesmo fazer as refeições fora de casa.
A realidade macroeconômica também escancara a gravidade da situação atual. Os juros do financiamento habitacional foram elevados. O reajuste no preço da carne faz a inflação subir ainda mais. Os itens da cesta básica aumentaram de preço e o financiamento de veículo caiu 8,6% no primeiro trimestre. O endividamento das empresas brasileiras no exterior, em dólar, aumentou. Os pedidos de recuperação judicial cresceram. Nos últimos 15 dias, os jornais mostraram também que o último bastião da economia também começou a ruir. Segundo os cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a desaceleração da economia fez com que a taxa média do desemprego que, em 2014, permaneceu em 4,8%, subisse para 6,2% nesses três primeiros meses do ano.
Quem acompanha o noticiário econômico tem com a nítida impressão de que todo o dia a situação econômica do país piora um pouco. Na área governamental, a sensação que fica é que a atual equipe econômica trava uma batalha solitária para consertar todos os erros cometidos, nos últimos anos, pela gestão anterior. Sem apoio do próprio governo para as medidas que toma, enfrenta as tradicionais resistências dos interesses contrariados. Mais do que qualquer outra atividade, a economia vive de expectativas e entre os especialistas há um consenso de que 2015 não será um ano bom, o que traduzido ao pé da letra significa que o ano será mesmo ruim. O famigerado Fundo Monetário Internacional (FMI) fez uma previsão sombria para a economia em 2015, que nas contas do órgão internacional encolherá em 1%. Enquanto as empresas estão colocando em prática medidas para contenção de custos, incluindo aí a demissão de trabalhadores, ao cidadão comum, desesperançado, resta olhar para a sua já enxuta planilha de despesas para ver onde mais a tesoura pode cortar para sobreviver em 2015.