A mensagem das urnas

A mensagem das urnas

Encerrada a votação do primeiro turno, olhando para o mapa de votação, inicia-se o processo de decantação dos votos que pode ser traduzido como a leitura fria do resultado. Nessa análise, para compreender a mensagem das urnas, deixa-se de lado as paixões e a ideologia para tentar entender o que o eleitor digitou. A equação da democracia brasileira resulta do grau de consciência de cada cidadão, expressa através do desejo da maioria. A primeira constatação a ser feita refere-se à transparência, à agilidade e à lisura do processo. Numa eleição com 142 milhões de eleitores, com regiões distantes e de difícil acesso, poucas horas após o encerramento das votações, ainda na noite de domingo, o país já sabia quem eram os eleitos e as disputas programadas para o segundo turno. Não houve nenhuma contestação digna de nota. Ao contrário das versões fantasiosas que circulam pela internet, o processo eleitoral brasileiro serve de modelo para o mundo. É um dos poucos indicadores em que o Brasil está à frente na comparação com outros países e democracias. Apesar de alguns problemas pontuais, a implantação da biometria significa mais um passo em direção a um processo totalmente digitalizado. No futuro, a votação eleitoral será similar a um saque em um caixa eletrônico. Com a impressão digital e um cartão eletrônico, será possível votar em qualquer lugar do país.

Se o processo eletrônico evolui a cada pleito, a qualidade do voto caminha num ritmo bem mais lento. A primeira constatação negativa mostra que a abstenção, que tem se mantido crescente na fase de redemocratização, alcançou quase 20%. Isso significa dizer que em cada cinco eleitores habilitados para votar, um ignora a eleição solenemente. Se a esse percentual for acrescido os eleitores que anulam ou votam em branco, o percentual chega a 29,03% ou a quase 1/3 do eleitorado. Do total de 142 milhões de eleitores, quase 39 milhões se mostram indiferentes à escolha dos governantes. Além de suscitar o debate sobre a obrigatoriedade do voto, o crescimento do eleitor desinteressado revela que o país tem urgência na reforma política que precisa rever a quantidade de partidos políticos. Se essa tendência não for revertida, nos próximos anos isso poderá comprometer a representatividade do processo inteiro. Esta eleição também mostrou, mais uma vez, que o número de 32 partidos pulverizou as ideologias e virou uma grave distorção da representação política. O excesso de siglas serve de sustentáculo para obscuros ditadores e para algumas figuras caricatas que fazem da eleição um meio de vida para aparecer e ganhar  notoriedade.

Com o advento das mídias sociais, as campanhas eleitorais estão ganhando nova forma e a discussão política enveredando por caminhos desconhecidos. As constantes denúncias sobre o caixa dois de partidos e candidatos, a delação premiada e a lei da ficha limpa estão mudando o comportamento dos concorrentes que agora enfrentam mais dificuldades para burlar a lei. O que se viu na eleição deste ano foram campanhas bem mais modestas que as anteriores, com poucos cabos eleitorais nas ruas. O tema corrupção predomina nos debates. O poder econômico continua exercendo a sua influência e sendo decisivo para determinar quem será eleito. Pelo país inteiro, herdeiros de caciques políticos são eleitos e reeleitos. Essa situação traz à tona a discussão sobre o financiamento de campanhas. A eleição ficou mais virtual do que real, mas na internet as mensagens são unilaterais, não há debate, conversa ou troca de informações. O uso indevido faz com que haja uma avalanche de informações, a maioria sem procedência que, no final das contas, até afastam o eleitor do processo. Os debates promovidos pelas emissoras de TV em altas horas da noite pouco contribuem para esclarecer uma parcela expressiva do eleitorado que chega às vésperas do pleito sem saber em quem votar.

Sabedores disso, os partidos políticos não abrem mão do derrame de santinhos nas imediações das seções eleitorais. Este ano, a mídia fez campanha pesada contra e mostrou vários acidentes de idosos nos locais de votação. Será que o velho santinho, a mais antiga ferramenta eleitoral está com os dias contados? Mais uma vez, as urnas mostraram de forma clara que, pelo menos na eleição presidencial, o Brasil é um país polarizado entre dois partidos, PT e PSDB. Assim foi em 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010. Nas duas primeiras, o PSDB venceu com Fernando Henrique Cardoso. Nas outras três, o PT ganhou com Lula e Dilma Rousseff. Com as alianças que serão feitas, quem ganhará a disputa em 2014? Que venha o segundo turno!




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