
Mensagens da Copa
Quem assiste aos jogos do Mundial com atenção pode extrair algumas lições, que vão além dos previsíveis resultados de uma partida. Por ser um esporte coletivo, as nuances do futebol escondem lições que servem para a vida em sociedade e até mesmo para o mundo corporativo. Uma antiga analogia compara o jogo aos desafios sociais. O onze contra onze pode ser traduzido como a síntese da utopia política, pois se trata de um esporte coletivo onde as individualidades possuem espaço e liberdade para se diferenciar. Na divisão social do futebol, cada jogador exerce uma função diferente, que contribui para o resultado coletivo. Em posições opostas, o goleiro e o centroavante possuem o mesmo peso para o êxito do grupo. O trabalho menos nobre de um lateral pode ser decisivo para o resultado do time. Tanto o coletivo pode estimular as individualidades como a atuação de cada jogador interfere no resultado final.
Os ensinamentos da Copa do Mundo também servem para o universo corporativo. A lição inicial, ainda na fase classificatória, ficou por conta da Alemanha. Não dá para se acomodar com as conquistas do passado. Se em 2014, os alemães deram um show de preparação, na Copa da Rússia os germânicos não se reinventaram para continuar no topo. O resultado foi uma das piores participações na história das copas. As novas regras do esporte e do mundo corporativo revelam que o passado vitorioso não significa garantia de resultados futuros. A poderosa Itália e a prestigiada Holanda não se classificaram para o Mundial. A campeã mundial Espanha caiu precocemente. Mesmo diante da descrença geral, é preciso acreditar em si mesmo. Foi essa a lição que a Rússia deixou na Copa. Comemore bem as pequenas conquistas. Mesmo eliminados na primeira fase, os coreanos voltaram para casa festejando a histórica vitória sobre a Alemanha. Os compadres mexicanos são um exemplo de que o bom humor é o melhor antídoto para uma derrota. Mesmo perdendo todas, o Panamá ficou feliz por ter marcado um único gol na Copa. De forma dolorosa, o Japão descobriu que não se pode vacilar nem no último minuto. “Não me subestimem”, bradou a Islândia.
Outra lição foi o desempenho de Portugal. A atuação dos patrícios reitera que uma andorinha só não faz verão. Apesar de possuir a maior estrela do mundial, Portugal não foi longe, pois um talento isolado não é suficiente para vencer todos os obstáculos. Cristiano Ronaldo chegou a fazer quatro gols, mas Portugal saiu na primeira eliminatória. Caso semelhante foi o da Argentina. A falta de unidade entre os membros do grupo pesou para os maus resultados. Além da marcação implacável dos adversários, ficou visível que algo abalou o desempenho de Messi, que exibia um semblante desmotivado e sem muito ânimo. Seu olhar parece que antevia o fracasso iminente dos argentinos.
Não se pode fazer um paralelo entre o mundo do futebol e o universo corporativo sem mencionar o técnico Tite da Seleção Brasileira. Antes de conseguir o título mundial de clubes e os dois nacionais com o Corinthians, era considerado um treinador mediano para os padrões brasileiros. Sua ascensão coincide com a incorporação de um vocabulário rebuscado, inicialmente visto com ironia pela imprensa esportiva, mas que aos poucos passou a ser respeitado a partir dos resultados que conseguiu. O “Titês” ou a “Titibilidade”, que cunhou o famoso bordão “fala muito”, pode ser resumido em três palavras exaustivamente repetidas pelo técnico: coerência, intensidade e concentração (foco). No abecedário de Tite ganha o jogo quem treina com a mesma intensidade das adversidades que surgirão na partida. A concentração máxima minimiza os erros. Como convém à modernidade, sua filosofia ainda tem um componente ético ao frisar que a coerência se faz necessária para escalar um time até mesmo para vencer o adversário com lisura.
Coerência que faltou aos torcedores brasileiros flagrados com canções indecentes. Não há mais separação entre o privado e o público, entre o on e o off line. Coerência que também falta ao craque Neymar. Embora seja um jogador fora de série, no mesmo nível dos melhores da atualidade, o jogador semeia antipatia entre juízes, adversários e torcedores. O comportamento infantilizado e imaturo, desrespeitoso e provocador em alguns momentos, fica incompatível com o marketing positivo que sua imagem precisa construir para alimentar a indústria de patrocinadores. Ao mesmo tempo em que seu talento aflora marcando gols, Neymar se torna referência de mau exemplo, simulando faltas, exagerando nas caretas de dor e se jogando no chão a todo instante. Virou motivo de piada e dos memes da internet: “Todos os dias, o brasileiro levanta cedo para trabalhar, pois só o Neymar ganha dinheiro deitado”.