A natureza empreendedora

A natureza empreendedora

Se em relação ao futuro político e econômico do país ainda existe muito ceticismo e desconfiança com relação ao papel das mulheres, não há muito espaço para dúvidas. As notícias divulgadas pela mídia no dia Internacional da Mulher comprovam avanços, embora algumas desigualdades persistam em relação à ocupação dos postos do mercado de trabalho. Registre-se que a igualdade absoluta nem deve ocorrer, pois homens e mulheres, mesmo que sem grandes antagonismos, são diferentes na sua essência e, na maioria das vezes, complementam-se. O que desapareceu, aos poucos, foram injustiças escancaradas, que barravam o ingresso das mulheres em atividades profissionais. Só não se pode esquecer que essa relativa igualdade demorou mais de um século para ser conquistada.

Nesse processo de discussão, a liberdade sexual ocupou um espaço maior, mas os sutis tentáculos do equilíbrio, lentamente, foram se estendendo para outras áreas, e principalmente para o mercado de trabalho. Pode até soar como uma afirmação metafísica, mas, pelo menos em vários segmentos, a sociedade tende evoluir e a própria dinâmica das mudanças vai arrefecendo as manifestações preconceituosas e mais atrasadas. Isso não significa que a utopia da igualdade plena foi alcançada, uma vez que os comportamentos discricionários permanecem arraigados em várias classes sociais. Apesar dessa abrangente mobilização internacional, ainda será necessário que as mudanças prossigam até que as desigualdades e a defasagem salarial, existente entre os gêneros, caminhem na direção da equivalência.

Desde as primeiras manifestações no início do século passado, o “sexo frágil” não fugiu à luta. Nesse processo de mudança, aconteceu de tudo um pouco. Luta, sangue derramado, derrubada de preconceitos, superação de estereótipos, quebra de tabus, surgimento de ideias novas, conflitos, gritos de protestos, mudanças bruscas e suaves. Nem sempre essa transformação ocorreu com a sutileza do tempo. Houve conflitos, perseguições e agressões. Esses avanços também passaram a ter o respaldo da legislação. Além das delegacias e das varas especializadas, a Lei Maria da Penha foi uma norma importante para ampliar a proteção à mulher. Recentemente, a presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei do Feminicídio que transforma em crime hediondo o assassinato de mulheres decorrente de violência doméstica ou de discriminação de gênero. Trata-se de adequação da legislação a uma nova forma de convivência social e à prevalência da defesa do gênero no âmbito da Justiça.

Aos poucos, aquela figura pacata da Amélia dona de casa, cuja missão se restringia à tarefa de educar os filhos, cedeu lugar a um perfil mais dinâmico, empreendedor, que disputa espaço no mercado de trabalho. A qualificação para assumir essas novas funções não veio de graça. As mulheres ingressaram em massa nas universidades e hoje, em muitas áreas, formam a maioria nos cursos. O resultado prático disso foi que as diferenças salariais entre gêneros diminuíram, embora ainda estejam longe de serem extintas.

Quando se escreve sobre empreendedorismo, a primeira entidade que vem à mente é o Sebrae, órgão que tem entre os objetivos primordiais fomentar as atividades econômicas no país. Segundo um estudo do órgão, nos últimos dez anos, o número de mulheres que comandam pequenos negócios no Brasil aumentou 21,4%, enquanto que o índice de homens foi de 9,8%. Outro número do Sebrae aponta que 52% dos novos negócios com menos de três anos e meio de atividade têm mulheres no comando. De acordo com a Serasa Experian, o Brasil possui mais de 5 milhões de mulheres empreendedoras, o que representa 8% da população feminina do país. Isso significa que 43% dos donos de negócio do país são do sexo feminino, e 57% são homens. O estudo também revela que a idade média das empreendedoras é de 44 anos. Desse total de mulheres com atuação empreendedora, 73% são sócias de micro ou pequenas empresas. Cerca de 1,3 milhão são sócias na categoria Micro Empreendedor Individual (MEI). Na outra ponta da pirâmide econômica, no segmento das grandes empresas, as mulheres representam apenas 0,2%.

Esses números demonstram que o reconhecimento demorou, mas veio. Hoje, elas são executivas, profissionais reconhecidas das áreas da saúde, beleza, educação, comércio, indústria e de tantas outras que antes eram redutos exclusivamente masculinos. Nesse ponto, a mudança foi injusta com as mulheres que assumiram novas funções no mundo dos negócios, mas não se livraram dos antigos e históricos papéis de donas de casa e de responsáveis pela manutenção do lar. Nos relacionamentos sociais, ainda meio tímido, já surge um movimento que convoca os homens a assumirem sua quota de responsabilidades domésticas.

Será mais uma etapa desse longo processo pela busca do equilíbrio entre homens e mulheres que agora têm a oportunidade de escrever uma nova história, tendo por base outros sentimentos. As futuras gerações, educadas em um mundo sem papéis tão rígidos, certamente serão mais receptivas à divisão equânime das tarefas. Com respeito às diferenças, consideração e solidariedade, caberá a eles a missão de consolidar as transformações iniciadas há mais de século. O presente reserva papéis diferentes para homens e mulheres. Para não se tornar uma espécie de dinossauro comportamental, cada indivíduo precisa estar aberto a esse novo layout das relações sociais e profissionais. Basta ficar atento ao dia a dia para perceber as nuances dessa transformação que está a pleno vapor.

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