No limite da resistência

No limite da resistência

A modernidade escancarou as tragédias humanas, muitas vezes divulgadas à exaustão, mas há momentos em que o universo conspira a favor. Essa visão otimista se materializa ao se conhecer a história do empresário ribeirãopretano Sérgio Buonarotti, tema do Documentário 1538ºC – The Iron Human que entra em cartaz no Cineclub Cauim neste mês. A exibição do filme começa por Ribeirão Preto, cidade dos dois diretores e jornalistas, Samuel Prisco e Lucas Bretas, mas também será exibido em festivais no Brasil e no exterior. Pela gravidade dos ferimentos, a vida de Sérgio ficou por um fio e sua sobrevivência pode ser atribuída à solidariedade de pessoas conhecidas e anônimas que não mediram esforços para salvar uma vida. O empresário chegou baleado no abdômen na Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas. Ele estava andando de bicicleta quando foi vítima de um assalto no Anel Viário, em 2011, um crime que teve grande repercussão na época. 
Samuel Prisco e Lucas Bretas, diretores do documentário
O empresário ficou três meses em coma. Para escapar da morte, passou por 62 cirurgias e contou com o apoio de médicos de várias especialidades, enfermeiros, anestesistas, nutricionistas e funcionários do hospital. A recuperação foi considerada espantosa para os padrões da medicina. Em períodos mais críticos, fez uma cirurgia por dia. Depois de dois anos e meio internado conseguiu se recuperar. Seis anos depois, Sérgio percebeu que a sua sobrevivência era uma espécie de renascimento e virou um triatleta de Iron Man. Daí a associação com o nome do documentário. A temperatura de 1.538ºC é o ponto de fusão do ferro, um dos componentes mais sólidos da natureza. “O personagem é um exemplo vivo do triunfo sobre as desventuras e nos proporciona a lição de que na vida precisamos ter resiliência para superar o adverso. Sérgio poderia ter padecido caso tivesse se entregado, mas em vez disso, foi determinado a virar o jogo”, comenta Lucas Bretas, diretor do filme.

A própria produção cinematográfica também virou um “case” de superação. O longa-metragem enfrentou pelo caminho uma pandemia que exigiu meses de trabalho remoto, tomadas de depoimentos, imagens e encenações. A direção de fotografia é de Alexandre Sá. Além de relatar um drama real e próximo, o documentário provoca uma reflexão sobre resistência, solidez e perseverança em condições adversas. Nada mais apropriado aos tempos atuais. A lógica a que estávamos acostumados foi subvertida, de uma hora para outra precisamos sair da zona de conforto. O homem de ferro, o triátlon, o documentário e a história de Sérgio Buonarotti mandam a mesma mensagem. Para concluir a prova, terminar o documentário e sobreviver é preciso perseverar, resistir até o fim, mesmo que muitas vezes o corpo esteja no limite. 

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