
Nós que não desatam
O tempo passa e alguns debates parecem eternos, vão e voltam deixando no ar a sensação de que os rumos políticos e administrativos da cidade andam em círculos, sem avanços concretos. Não há, por assim dizer, um único vilão, alguém em que se possa despejar toda a culpa para ficar com a consciência aliviada. Nessa história sem final animador, de uma forma ou de outra, por maquiavelismo de alguns ou por alienação de outros, todos os personagens envolvidos fazem parte de um jogo empatado que no final das contas desencanta o eleitor e o mantém cada vez mais afastado dos assuntos da cidade. Enquanto as “forças vivas” se digladiam na defesa estridente dos interesses corporativos, o cidadão alheio a essas discussões precisa enfrentar os problemas do mundo real que são diários e que não podem esperar indefinidamente por uma solução do poder público. Essa discussão toda pode ser sintetizada pelo antigo e sábio ditado: “enquanto os cães ladram, a caravana passa”. No caso em questão, enquanto se perde um tempo enorme em longas discussões, muitas vezes estéreis, os problemas se avolumam.
Numa rápida olhada pelo noticiário facilmente se encontram demandas antigas que parecem insanáveis. Recentemente, reapareceu uma questão que já deveria ter sido resolvida há tempos: a quantidade de vereadores da Câmara. Há quase uma década, essa mesma discussão monopolizou as atenções da cidade com debates acalorados e a participação das entidades representativas da sociedade. Registre-se que a legislatura anterior deixou amargas lembranças com uma “plêiade” de parlamentares cassados pelas urnas e pelo Judiciário. Eis a dúvida cruel. Para a próxima legislatura serão 27, 25, 22, 21, 20 ou algum número primo? Em toda a controvérsia sobram argumentos e interesses corporativos para todos os lados. Nessa questão, entretanto, há um que se sobrepõe e justifica a redução para 20. Os combalidos cofres públicos economizariam algo em torno de R$ 25 milhões durante quatros anos. Na atual crise econômica, esse é um argumento muito forte. Caso a redução ocorra, seria um sinal concreto do esforço do setor público para economizar recursos. Caso contrário, o interesse do eleitor/contribuinte seria francamente contrariado.
A queda do custo ocorreria através da diminuição do número de assessores e dos salários dos vereadores. A essa economia se juntaria a redução do valor gasto com combustível, papel, telefone, passagens áreas e outras despesas. Os partidários da manutenção de 27 ou de um número maior que 20 advogam a tese da qualidade da representação, algo que não se sustenta. Além da economia, a redução do número de parlamentares implicaria no aumento da produtividade, menos vereadores para um número maior de regiões, moradores e assuntos. Isso ficou bem sintetizado no título da matéria de política da Revide desta edição. Nesse caso, menos é muito mais. Se a diminuição no número de cadeiras for aprovada, Ribeirão Preto se equipararia a quantidade de vereadores de câmaras de outras cidades do mesmo porte. O que não pode acontecer é a discussão se arrastar pelo ano inteiro, consumindo o escasso tempo e as energias dos vereadores. Vira um processo antropofágico quando um órgão público coloca os próprios interesses acima das aspirações da própria sociedade. A Câmara tem até outubro deste ano para definir essa questão com vistas à eleição do ano que vem, mas não pode perder esse tempo enorme para decidir uma questão de tanto interesse coletivo.
Outro órgão público que ainda não encontrou seu caminho é a Região Metropolitana que, quase três anos depois da fundação, ainda não conseguiu se transformar em uma entidade efetiva que faça alguma diferença na vida da população regional. Até agora, passados mais de 1.000 dias não se pode apontar um único benefício concreto para os moradores das 34 cidades da região. Prefeitos e coordenadores gastam a maior parte do tempo tentando superar as intermináveis dificuldades impostas pela burocracia.
Para conseguir as informações publicadas em uma matéria nesta edição, a reportagem da Revide precisou vencer as barreiras dentro da própria Empresa Paulista de Planejamento Urbano (Emplasa) e entrar em contato com cinco secretarias. O Trevão, a grande obra de integração regional, felizmente saiu antes da criação da região metropolitana. Se dependesse dela... Discussões que se arrastam interminavelmente, caso da Câmara de Vereadores, e órgãos colegiados que não conseguem oferecer benefícios concretos à população, caso da Região Metropolitana, fazem com que essas instituições caiam em descrédito perante a população. Junto com isso se fortalece o ceticismo e a rejeição de governos e governantes e isso aprofunda a crise política. Passou da hora de desatar esses nós.