A nova era do bullying

A nova era do bullying

O bullying sempre existiu, mas tempos atrás não era algo tão frequente e tão maquiavélico. Pode ser até uma falsa impressão, mas parece que no passado importunar era algo bem mais inocente, temperado por uma pueril crueldade infantil que consistia em puxar o cabelo da colega mais bonita da sala, colocar apelido jocoso em alguém que tivesse alguma pequena anomalia estética, um nariz de tucano ou as famosas orelhas do topogigio. Na sua vertente mais violenta, o bulliyng de outrora culminava em um furdúncio na saída da escola. Nessa época, esse invasivo assédio na vida alheia ainda não tinha essa denominação, era representado pelo verbo molestar, que por sua vez ainda não tinha a usual conotação de abuso sexual. A alteração dos significados gramaticais retrata a mudança e as novas percepções dos conceitos. 

Sorrateiramente, o bullying evoluiu para pior ao adquirir uma face social mais violenta, mais frequente e mais contundente. Hoje, tornaram-se corriqueiras nas páginas policiais dos jornais as notícias que relatam o espancamento de um trabalhador negro por estudantes de medicina, o B. O. dos alunos de enfermagem que se juntam para espancar uma colega de sala e o caso dos estudantes de direito que hostilizam alguém que não se coaduna com o pensamento majoritário da turma. Sinal da intolerância que campeia pelos tempos modernos. 

A casa de parentes do atirador de Realengo amanheceu pichada, mas dias depois moradores das proximidades puseram a mão na consciência e pintaram a casa de branco por entenderem que ninguém deve ser punido por ter um doente mental na família. De caso em caso, o bullying cruzou os muros da escola, deixou de ser um desvio de conduta de colegiais inconsequentes para se tornar uma grave moléstia coletiva, um problema social de crescentes proporções decorrente da falta de preparo e de educação dos indivíduos para dividirem civilizadamente o espaço urbano.

Todo mundo já ouviu alguma história da discussão banal de trânsito que terminou em assassinato. O “eu” está com muita pressa, exige prioridade absoluta e não tolera qualquer interferência na satisfação das necessidades mais imediatas. Em Porto Alegre, um motorista impaciente acelerou o carro em cima de uma passeata de ciclistas. Na Avenida Paulista mês sim, mês não algum homossexual é espancado por ricos jovens de classe média doidos para quebrar algum transeunte desavisado. Gratuitamente, do nada, um deputado pago pelo contribuinte saiu ofendendo negros e homossexuais. O Partido Popular (PP), ao qual pertence o nobre deputado, não fez nenhuma menção pública de expulsar o homofóbico parlamentar. No reino da conivência, ficará por isso mesmo a bulida que Jair Bolsonaro deu na democracia racial e sexual brasileira. O bullying também impregnou as redes sociais em que escondidos sob o anonimato virtual um número crescente de pessoas se sente encorajada a escrachar com o próximo. 

De ameaça em ameaça, consolida-se o reino da intolerância. No meio desses casos de agressão são penalizados os bodes expiatórios que, por enquanto, podem ser os negros, os homossexuais ou os estudantes fora do padrão escolar. Mas não tolere e nem facilite para não ter que adivinhar quem poderá ser a próxima vítima no novo e abrangente reino do bulliyng.

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