
Nova versão do orkut
Desde que Adão e Eva andaram pelo paraíso o mundo está mudando. A diferença entre os primórdios e os tempos atuais é que as transformações que levavam séculos para se consumar, agora, ocorrem rapidamente. Em décadas, o velho sucumbe para dar lugar a algo novo e ressurgir logo ali na frente. Na web, dois anos podem valer por uma era, tempo suficiente para que um ciclo se feche e uma nova versão ressurja.
No Brasil, o Orkut foi uma espécie de mãe que popularizou as redes sociais pela qual a maioria dos internautas deu os primeiros passos para trilhar um caminho que parece não ter mais fim. De quantas redes sociais o ser humano precisa para viver bem? Sem o WhatsApp, o mundo parece que para. Filiado ao Google, criado em janeiro de 2004, o Orkut arrebatou uma legião de fãs até sair de moda e ver o Facebook assumir o posto de mídia nacional preferida. No Brasil, chegou a possuir 30 milhões de fãs. O Google recebeu muitas críticas de usuários inconformados quando desativou o Orkut em setembro de 2014. Não passou muito tempo e o Orkut está de volta, numa versão melhorada, rebatizado de Hello.
O criador da nova rede social, que deverá chegar ao Brasil em julho, foi justamente o projetista chefe do Orkut, o engenheiro turco Orkut Büyükkökten. Além de batizar a rede social com seu nome, na época em que trabalhava para o Google, Orkut, o engenheiro, é um desses gênios da humanidade que aos 41 anos já carrega no currículo a criação de duas redes sociais, fora outros projetos. A Hello já conquista adesões nos Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia e Austrália. Os brasileiros, ávidos por novidades na internet, já podem fazer um pré-cadastro com nome e e-mail para serem avisados quando a rede estiver no ar. A nova mídia social vai funcionar com aplicativos IOS, Andróide e tem um site na web.
Tanto para o bem quanto para o mal, as redes sociais são um recorte da vida e da realidade com a qual as pessoas não estão sabendo lidar. Uma das principais críticas feitas ao Facebook condena o espaço que os seus diferenciais, o mural compartilhado e a linha do tempo, abriu para manifestações de ódio, de preconceito e de intolerância, embora a rede social não seja responsável pela inconsciência dos usuários. Nessa disputa entre as mídias do momento, o Hello tentará se diferenciar da superficialidade do Facebook em que a curtida, sem uma leitura atenta, pode significar o mero cumprimento de formalidade.
A nova rede social chega com a ambiciosa meta de construir amizades profundas, relações sólidas entre usuários com afinidades comuns, sem ódio e sem intolerância. Provavelmente, o encarregado de apresentar as pessoas com as quais o usuário possui afinidades, e que doravante poderá ser o amigo virtual do peito, será o algoritmo, uma sequência finita de informações processadas por computador que estabelecem padrões de semelhança.
Vejam só os paradoxos do mundo atual, em que os seres humanos navegam sem parar e entregam às máquinas a tarefa de descobrir simpatias e até amizades. De um lado, a rápida difusão de conteúdos via internet provoca a sensação de que o mundo está bem mais pesado que outrora. Conteúdo ruim anda mais rápido e por isso proliferam notícias de estupros, suícidios e crimes hediondos. De outra parte, à medida que a noção de caos se agiganta, as pessoas se sentem isoladas na imensidão de “amigos distantes” e de milhares de possíveis interações virtuais. Em outra ponta, ficam cada vez mais apartados do mundo os que não se movimentam para fazer parte desse universo.
No meio dessa babel da modernidade, uma rede social surge justamente para tentar reverter o vazio informe, ilimitado e indefinido, apresentando-se aos internautas como uma ferramanta amigável, para comentar o lado bom da vida, compartilhar paixões mútuas, entre grupos e pessoas com interesses comuns. Sabendo que os brasileiros são ávidos por novidades e assíduos nas redes sociais, o engenheiro turco escreveu uma carta em português na qual explica que as redes sociais evoluíram muito, mas nem sempre de forma positiva. “Estudos mostram que, hoje, as mídias sociais deixam muita gente triste ou ansiosa”, declarou Orkut que ainda poderia ter mencionado a assimilação de informações distorcidas, a superficialidade, a carência de relações afetivas mais sólidas, a perda da privacidade, o exibicionismo exagerado e uma imensa dificuldade para conviver com o divergente. Orkut acredita que o algoritmo do Hello conseguirá criar laços sólidos de amizade para superar essas dificuldades. E você que navega, está disposto a permitir que a Hello te apresente os amigos de verdade?