O bafão no BBB

O bafão no BBB

Um dos desafios dos articulistas de jornais, de revistas e da internet é encontrar temas edificantes que ajudem a esmiuçar o sentido da vida. Com a sua mediocridade, o BBB não se enquadra neste perfil construtivo,  pois abundam na casa temas aplastantes e abjetos.  A edição 2012 não tinha maiores novidades além da correção inflacionária do prêmio. Mulheres escolhidas a dedo, homens saradões, mesclados a representantes de algumas minorias para dar uma entornada no caldo. O toque erudito do Pedro Bial ajuda a digerir um produto tão trash. 

Há 12 anos, essa fórmula se repete com pequenas alterações. Já no primeiro dia deste ano, José Bonifácio Brasil de Oliveira, o Boninho, diretor do programa, decidiu colocar um número de camas inferior ao de participantes só para acender o fogo da libidinagem.

Eis que a monotonia foi quebrada por um boletim de ocorrência de estupro ou de abuso sexual, depende do enquadramento. Depois de as imagens mostrarem um possível “abuso sexual”, a sister Monique Amin declarou à Polícia que foi tudo consentido. Dúvidas ficaram no ar. Mesmo sem a realização do exame do corpo de delito, o delegado do 32º DP do Rio de Janeiro continua investigando o caso para descobrir se o brother Daniel Echaniz  molestou sexualmente Monique Amin, enquanto ela estava virtualmente em coma  por uma overdose de vodca. Pelo sim, pelo não, calcinha, edredom e sunga foram recolhidos para o exame pericial.

A pérola ficou por conta da explicação do diretor do programa. Boninho assumiu que as regras do BBB não são muito claras.  “A gente avaliou que a atitude do Daniel foi ruim. No meio de uma festa, uma cantada mal dada pode causar uma eliminação”. Portanto, a mesma direção do Programa que economizou nas camas no primeiro dia afirma que umas cantadas valem, outras não. Contudo, quem é dono do jogo faz as regras. Daniel é negro e nem passou pelo paredão para ser expulso do BBB. A atitude pode ter sido racista? Apesar de tudo isso, o brother ainda quer voltar para o Programa.

Ao afrontar o bom senso, o BBB potencializa o culto ao efêmero e ao descartável.  Numa metáfora perversa do que deveria ser a vida, o que vale é ganhar o jogo de qualquer jeito, mesmo que seja passando por cima da ética ou de qualquer outro princípio, algo semelhante ao que a personagem de Meryl Streep fez com sofisticação no filme o “Diabo Veste Prada”. 

Na medida em que os padrões tradicionais estão sendo substituídos é preciso encontrar outras referências que preencham esses vazios. Caso contrário, os relacionamentos humanos daqui para frente podem ter como o espelho as sacanagens disseminadas pelo BBB. Estamos bem no meio de um processo de reavaliação e de validação de valores. Nesse sentido, o BBB, do 1 ao 12,  presta um grande desserviço à formação de uma nova consciência de jovens e de adultos. É desanimador constatar que um programa de tão baixo nível ainda desfrute de larga audiência. A esperança repousa no poder de fogo dos patrocinadores.  Quem sabe marcas como a Fiat não se encarregam de pisar no freio da baixaria.   

 

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