O bico do passarinho

O bico do passarinho

As redes sociais estão moldando a vida das pessoas de forma avassaladora, algo impensável décadas atrás. Tik Tok, Facebook, Instragram e o Twitter se tornaram extensões dos atos humanos com consequências imprevisíveis e até assustadoras. Rede social vicia e por isso os internautas também são chamados sintomaticamente de usuários. Nesse mundo digitalizado, a venda de uma rede social se torna um dos assuntos mais comentados do mundo, principalmente porque pode haver mudanças no padrão de uso oferecido aos usuários. É o que deve ocorrer com o Twitter, a rede social do passarinho azul comprada por U$ 44 bilhões, por Elon Musk, o homem mais rico do mundo. O capitalismo internacional não tem muitas travas e rapidamente os mais afortunados acumulam a riqueza e vão se tornando bilionários. Com o bolso cheio, o empresário sacou à vista da própria conta US$ 21 bilhões, para pagar o restante recorreu a empréstimos bancários. 

Embora pertencesse a um pequeno número de acionistas, a compra da rede social por uma única pessoa passou para o mundo a sensação de que o passarinho que representa o Twitter, daqui para frente, estará preso, engaiolado, sem liberdade para voar, acorrentado às vontades de um dono único. A expressão tweet, em inglês, equivale a piar, o som emitido pelos pássaros que em tempos passados eram agentes da comunicação, treinados para levar pequenas mensagens a lugares distantes. Fundada em 2006, o Twitter possui 19 milhões de usuários no Brasil, 217 milhões no mundo. Apesar de não ser uma das redes com maior número de usuários, acima do bilhão, casos do Facebook, Tik Tok e do YouTube, tornou-se uma das plataformas mais utilizadas pelos formadores de opinião. Nessa rede dos comunicados curtos, com 280 caracteres no máximo, desfilam chefes de governo, artistas famosos e grandes empresários. Devido à praticidade se tornou uma ferramenta ágil para troca de informações e a plataforma preferida pelos jornalistas. 

No Brasil e no mundo, trava-se um debate acirrado sobre o uso de redes sociais, o twitter inclusive, principalmente em época de eleições. O novo dono da rede do passarinho azul defende que as plataformas sejam utilizadas a bel prazer dos políticos, sem nenhuma espécie de moderação, o que abre espaço para que a internet se torne cada vez mais uma terra sem lei. Se alguém afirmar que foram os poloneses que exterminaram os alemães na Segunda Guerra Mundial, algo precisa ser feito. Antes de ser adquirido por Musk, o twitter moderou as postagens do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, um assíduo publicador de notícias falsas e ofensivas. No Brasil, junto com outras plataformas, o Twitter assinou um acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para coibir a circulação de notícias falsas.  

Nos últimos tempos, essa discussão tem sido muito presente em vários ambientes, da política à vida cotidiana. O algoritmo que controla o conteúdo das redes tem o poder de definir o que será lido, compartilhado e divulgado. Esse poder doutrinador não pode ser subestimado. Ele transforma mentiras em “verdades absolutas”, uniformiza discursos, estimula ódios e paixões, cria mitos e destrói reputações. Vivemos na era dos extremos sem discussão, do influencer desprovido de qualquer senso de relevância ao cancelamento sumário sem direito a defesa. 

Para não se contaminar pelo conteúdo tóxico das redes sociais, há que se por em prática a mediação feita pelo juízo equidistante. Olhar o entorno com atenção e a abertura até mesmo para o que se apresenta como algo muito contraditório. É preciso sair da bolha. A complexidade do mundo não cabe numa mensagem curta do WhatsApp ou num post do Facebook. Tirando os filtros, a realidade não tem o glamour que transborda no Instagram. Desconfie da mensagem que te oferece um conteúdo fechado. Além do Erlon Musk, tem muita gente interessada em manipular o que sai do bico do passarinho. 

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