O Brasil que se espera

O Brasil que se espera

Sonhar não custa nada. O Brasil que vai emergir das urnas precisa ser um lugar onde, acima de tudo, haja democracia, liberdade de escolha, respeito às diferenças e principalmente às minorias, sejam eles homossexuais, deficientes, índios e etnias estrangeiras. Esse princípio de cidadania precisa ser estendido e consolidado até mesmo para as maiorias, pois os negros e as mulheres, apesar de formarem a maior parte da população, sofrem com a violência e são desrespeitados diariamente. O Brasil ainda necessita das cotas, mas o ideal seria que as mesmas oportunidades fossem oferecidas para todos. Esse dia ainda chegará.  

O Brasil que sairá dos votos de milhões de eleitores tem urgência na construção de um Estado mais justo, que promova uma melhor distribuição de renda e uma carga tributária proporcional aos rendimentos. O Estado brasileiro não pode ser uma espécie de vampiro que drena toda a energia e os recursos produzidos pela sociedade para manter estruturas inoperantes e para pagar a conta dos privilégios. O governo e a burocracia não podem ser empecilhos para a expansão das atividades privadas. Pelo contrário, a gestão pública precisa ser uma ferramenta de estímulo aos novos negócios e empreendimentos. 

O país que sairá das urnas não pode ser mais tolerante com a corrupção, que desvia recursos de setores essenciais e deixa milhões de pessoas desassistidas na saúde, na educação, na segurança e na infraestrutura. A nação ungida pelo voto democrático deve exigir com veemência a punição dos corruptos e dos prevaricadores. Esta mudança abrangente envolve uma nova postura de cada cidadão que precisa dar exemplos de idoneidade, educação e ética em atitudes corriqueiras. 

O Brasil que a maioria escolheu precisa resgatar o sentimento de unidade, ser mais tolerante com os contrários, menos arrogante para expor convicções e mais afeito ao diálogo e à construção do entendimento. As posturas raivosas, agressivas e odiosas devem ser enfrentadas pelas vias da educação para que se restabeleçam os limites dos direitos públicos e privados. Há que se combater a generalização da violência, utilizando-se a força proporcional do Estado para combater a criminalidade. 

A pátria que os brasileiros anseiam nunca será um paraíso livre das tensões sociais, pois elas são inerentes à vida de qualquer sociedade dinâmica. As diferenças e os conflitos sempre existirão. O que faz toda a diferença passa pela forma como as instituições buscam esse equilíbrio para promover a justiça social. Este é um requisito chave. Os poderes e as instituições precisam funcionar no limite das suas atribuições dentro do perigoso pêndulo que separa a prevaricação do arbítrio.   

O país jovem, que se tornou independente há menos de 200 anos e que há apenas 30 anos promulgou uma constituição democrática precisa de líderes equilibrados para gerir o destino de um povo que possui necessidades tão díspares. Fruto de distorções e privilégios seculares, há uma imensa dívida social que precisa ser resgatada com os desempregados e as populações marginalizadas. É uma vergonha nacional mais de 50% da população não possuir saneamento básico.  

Os 209 milhões de brasileiros estão cansados de serem enganados pelas promessas demagógicas, pelos discursos forjados, por golpes de marketing e pelas práticas que negam a teoria desde os primeiros atos de governo. As demandas atuais não são inalcançáveis, mas só se tornarão possíveis à medida que o interesse coletivo se sobrepor às reivindicações corporativistas e individuais. 

O Brasil tem jeito e pode alcançar a mesma evolução que outros países já conquistaram. O voto não encerra a questão democrática. Trata-se apenas de uma ferramenta para manter o sistema funcionando. Sobre isso, bem dizia o sempre citado Tomas Jeferson, o principal autor da declaração de independência dos Estados Unidos. “O preço da liberdade é a vigilância eterna”.  

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