
O calvário dos justos
Hoje, infelizmente, a região de Ribeirão Preto ostenta os piores índices do Estado de São Paulo. Salvo algum equívoco estatístico, a nossa região metropolitana se tornou o epicentro estadual da pandemia. Assim, o inevitável aconteceu. Lockdown ou forte restrição das atividades econômicas em Franca, Bebedouro, Batatais, Brodowski e agora o fechamento em Ribeirão Preto por cinco dias, de 27 a 31 de maio. A segunda paralisação em três meses, a anterior foi de 17 a 21 de março, com imensos prejuízos econômicos, sociais e sanitários.
Quando se tenta entender as razões deste interminável abre e fecha, chega-se à conclusão de que coexistem pelo menos dois padrões de comportamento bem definidos, duas maneiras distintas de lidar com a pandemia. De um lado, há uma parcela majoritária das pessoas e das empresas que segue e respeita as orientações da ciência e as decisões governamentais. Em estabelecimentos comerciais, clínicas, academias e salões de beleza, os cartazes e as orientações pedindo para que as pessoas respeitem o isolamento e se protejam estão bem à vista. As faixas vermelhas isolam mesas, cadeiras e espaços que não podem ser usados para respeitar a capacidade máxima de cada estabelecimento.
O que tem pesado contra a superação da pandemia são as atitudes que ocorrem na informalidade das relações cotidianas e no ambiente doméstico. Nesses espaços não há controle de espécie alguma. As pessoas se aglomeram em festas, churrascos, baladas e atividades esportivas por onde o vírus se espalha. Todo final de semana, a fiscalização termina com festas clandestinas. Gente do andar de cima não se cansa de dar maus exemplos. Dessa forma, toda vez que medidas restritivas são decretadas, há uma revolta entre aqueles que se sacrificam e se esforçam para cumprir as medidas de isolamento.
Vem à mente aquele antigo provérbio religioso, dizendo que o justo será chamado a pagar pelo pecador. Soa muito injusto e fica a sensação de impotência, pois em uma cidade e em uma região tão grandes, a fiscalização nunca será onipresente. Contam muito as atitudes individuais para o controle ou o descontrole da pandemia. Há mais de um ano, os números revelam que por aqui se sobressai um comportamento egocêntrico e individualista, em que falta empatia e sobra irresponsabilidade.